Pular para o conteúdo principal

Então lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15), POR VASCONCELOS ARRUDA

Posted: 11 Oct 2015 10:13 AM PDT
Eu me apresento a vocês sem ter nada especial a oferecer. Não tenho a pretensão de ser um grande pregador ou mesmo intelectual profundo. Decerto não tenho nenhuma pretensão à infalibilidade – ela está reservada às alturas do Divino, não às profundezas do humano. A cada momento, tenho consciência de minha finitude, sabendo com clareza que nunca fui banhado na luz da onisciência nem batizado nas águas da onipotência. Apresento-me a vocês unicamente com a afirmação de ser um servo de Cristo e com o sentimento de depender de sua graça para minha liderança. Venho com o sentimento de ter sido convidado para pregar e liderar o povo de Deus. Senti-me como Jeremias: “A palavra de Deus é em meu coração como fogo ardente encerrado nos meus ossos.” Tal como Amós, percebi que, quando Deus fala, quem pode deixar de profetizar? Senti com Jesus que o Espírito do Senhor está em mim, pois ele me designou a pregar o evangelho para os pobres, curar os desolados, pregar a soltura dos cativos e libertar os oprimidos.
Martin Luther King
[King, Martin Luther. A autobiografia de Martin Luther King. Organização Clayborne  Carson; tradução Carlos Alberto Medeiros. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2014,
 p. 64.]
A grande pergunta que tenho feito a mim mesmo ao longo dos últimos anos é, creio, a pergunta mais importante que deve fazer quem queira levar a sério o projeto de se tornar um discípulo de Cristo: Quem é este Cristo a quem pretendo seguir? A segunda indagação vem depois: Agora que me tornei seu discípulo, o que ele quer de mim?
Não tendo ainda obtido uma resposta que me satisfaça, tanto a uma quanto à outra indagação, sigo buscando pistas que me esclareçam e iluminem. Não me é possível pensar no seguimento de Cristo sem considerar a radicalidade desse projeto. Quando penso nas possíveis implicações da adesão a Cristo, muitos nomes me veem à mente. Refiro-me a pessoas que disseram integralmente sim ao convite de se tornarem discípulos e, portanto, testemunhas de Cristo.
Duas dessas pessoas, coincidentemente, foram pastores de igrejas protestantes: o alemão Dietrich Bonhoeffer e o norte-americano Martin Luther King. A vida desses dois homens me provocou sempre uma profunda e indelével impressão.  Sua fidelidade no seguimento da mensagem de Cristo, em pleno século XX, século este que testemunhou uma laicização da vida sem precedentes, é tão admirável quanto surpreendente.
A propósito, enquanto lia esta manhã o primeiro sermão proferido por Martin Luther King (1929-1968) como pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama,  num domingo, 2 de maio de 1954, fechei o livro e fiquei um tempão de mão no queixo, pensando. Quando fez o sermão – cujo trecho cito no início desse artigo, à guisa de epígrafe -,  o jovem pastor norte-americano tinha apenas vinte e cinco anos. Apesar de tão jovem, quanta determinação e convicção transmitem suas palavras. Ali estão palavras de um homem que tem a mais absoluta convicção de quem é o seu Mestre e o que ele quer de si.
No capítulo de sua Autobiografia no qual o sermão é citado, pode-se vislumbrar o desafio que significou para ele assumir a missão para a qual se sentira chamado. Foram dias e dias pensando, refletindo e conversando muito com sua esposa, antes de, enfim, decidir-se a aceitar o convite. Uma vez tomada a decisão, porém, ele não titubeou, entrando de cara, assumindo integralmente, com muita responsabilidade e espírito de envolvimento e doação o projeto para o qual se sentira chamado por Deus.
O mais importante ele tinha: a certeza de que seu Mestre era Jesus Cristo e de que entregar-se totalmente ao seu seguimento era a grande missão a que fora chamado na vida.
Mas quantos de n

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história do lápis, POR paulo coelho

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou: - Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse. O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.   - Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida! - Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.   “Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade”. “Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o ...

UM EXEMPLO A SER SEGUIDO: Filha de cobrador de ônibus que ir para HARVARD

"Mais do que 30 medalhas conquistadas em olimpíadas de física, química, informática, matemática, astronomia, robótica e linguística no mundo todo, a estudante Tábata Cláudia Amaral de Pontes, de 17 anos, moradora de São Paulo, guarda lembranças, contatos, culturas e histórias dos amigos estrangeiros que fez por onde passou. Bolsista do Etapa,Tábata que é filha de uma vendedora de flores e um cobrador de ônibus conclui em 2011 o terceiro ano do ensino médio e encerra a vida de "atleta." O próximo desafio é ingressar na universidade. A jovem quer estudar astrofísica e ciências sociais na Harvard University, nos EUA, ou em outra instituição de ensino superior americana. Está participando de oito processos seletivos para conseguir bolsa de estudos. "Com ciência é possível descobrir o mundo. Eu me sinto descobrindo o mundo e fico encantada com o céu" Tábata Amaral, estudante Também vai prestar física na Fuvest, medicina na Universidade Estadual de Campinas (Un...

Felicidade é sentir-se pleno

Não permita que a irritação e o mau humor do outro contaminem sua vida. Não permita que a mágoa alimentada e as reações de orgulho do outro definam a sua forma de reação.  Se alimente de um amor pleno a tal ponto que não seja contaminado por aquilo que lhe é externo. Não gere expectativas que a sua felicidade dependerá de alguém ou de alguma coisa, ou de alguma conquista. Não  transfira ao outro ou a uma circunstância aquilo que é sua tarefa. A felicidade é  um estado interior que se alcança quando se descobre a plenitude com aquilo que nos relaciona com o "todo", com o universo, com Deus. A felicidade está na descoberta da sua missão, do fazer humano em benefício do próximo, da tarefa inarredável de tornarmos este mundo melhor com a nossa presença. Ser feliz é uma atitude, uma ação, um movimento para o bem. É encher-se de  amor pela aventura da vida, é construir esperança no meio do caos, é sempre ter um sorriso aberto para o que destino nos apresenta. Felicidade é ...