Pular para o conteúdo principal

Déficit de confiança, POR BETH CALADO


A semana que foi marcada pela decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s de rebaixar a nota de crédito brasileira termina sem que o governo tenha conseguido apontar um rumo concreto para a recuperação da confiança dos agentes econômicos e políticos. As dificuldades para a montagem de um conjunto de medidas destinadas a reduzir os gastos públicos continuam evidentes. E a reação negativa da opinião pública ao aumento de tributos completa o quadro desfavorável ao reequilíbrio das contas públicas.  

Ainda sob impacto da perda do grau de investimento na classificação da S&P, o governo cuida de medir os efeitos que a mudança pode provocar na economia do país. Há grande preocupação com as oscilações da moeda brasileira e a tendência de uma dose maior de desvalorização diante do dólar. O endividamento das empresas em moeda estrangeira é uma das portas de contaminação desse processo, mesmo que muitas tenham acionado os instrumentos financeiros de proteção cambial. 

As consequências podem ser mais profundas para a política monetária conduzida pelo Banco Central, especialmente se o governo não conseguir montar com maior rapidez um pacote de medidas que devolva solidez à política fiscal. O pior cenário é aquele em que as expectativas em relação à inflação do próximo ano escapem ao controle e deixem de convergir para as proximidades do centro da meta de 4,5%. Nesse caso, o Comitê de Política Monetária (Copom) seria obrigado a recorrer, mais uma vez, ao remédio amargo da elevação dos juros. 

Como tudo é interligado na economia, subir ainda mais a taxa Selic, hoje na altura de 14,25% ao ano, significa acrescentar custos na área fiscal, já pressionada por gastos que o governo não tem conseguido comprimir. As barreiras para a redução das despesas públicas não são apenas de ordem legal, como reiterou o governo ao tratar da proposta orçamentária deficitária que encaminhou ao Congresso para o próximo ano. Os entraves de ordem política são igualmente relevantes. 

Nesse ponto, pesam tanto os acordos partidários que distribuem os aliados por milhares de cargos e funções espalhados nos principais escalões do governo, como também os compromissos de ordem programática e ideológica. É o caso dos gastos com o pagamento de salários do funcionalismo público, uma categoria que mantém uma aliança estratégica com o partido da presidente Dilma Rousseff. Sem contar a enorme capacidade de mobilização das entidades representativas dos servidores públicos. 

As pressões para assegurar os reajustes salariais no próximo ano são muito fortes, como comprovam os movimentos que ocupam a Esplanada dos Ministérios. Na semana passada, dirigentes de algumas pastas ficaram sitiados por manifestantes que impediam a entrada nos prédios. Alguns optaram por marcar reuniões em casa ou em outros locais públicos para escapar do certo. É de se imaginar o que poderia acontecer se o relator do Orçamento do próximo ano, deputado Ricardo Barros (PP-PR), tentar levar adiante a ideia de eliminar da proposta orçamentária os reajustes previstos para o funcionalismo. 

Há, por fim, a avaliação negativa que pesa sobre o governo da presidente Dilma Rousseff, às voltas com recordes de impopularidade, e seus auxiliares. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está inserido nesse cenário de desgaste, o que dificulta sua argumentação em favor do aumento de impostos para equilibrar as contas públicas brasileiras. Levy enfrenta aquilo que o cientista político Leonardo Barreto chama de “déficit de confiança” provocado pelos insucessos colhidos até agora na política econômica. E que torna improvável uma resposta positiva ao pedido de apoio para novas medidas de sacrifício.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PADRE JOÃO BATISTA FROTA LANÇA O LIVRO “NAS PEGADAS DE JESUS”

Ainda não tive o prazer de ler o livro recém-lançado pelo conterrâneo Padre João Batista Frota. Em breve com certeza comentarei com vocês. Padre João é massapeense, embora radicado em Sobral há muitos anos. Tenho por ele uma profunda admiração. Não tenho dúvida de que se trata de uma excelente leitura. Li na última edição de o Jornal Correio da Semana um belo artigo do Professor Teodoro Soares e resolvi transcrever in verbis: Monsenhor João Batista Frota, professor emérito da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), depois de publicar “Marcos de esperança” e “Construindo o amanhã”, lança nesta semana seu mais recente livro “Procurando as pegadas de Jesus”. Padre João nos faz viajar com ele, ao descrever cenários e circunstâncias de sua viagem ao Oriente, ora de trem que chega a perder numa estação, ora de navio que lhe faz dançar sem querer. Seu trajeto inclui espiritualidade e realidade hodierna. Preparado para recitar o salmo 122 (“nossos passos já se detêm às tuas portas, Jerusal

NOSSA RECONHECIMENTO AO DR. FERNANDO TELES DE PAULA LIMA

Não tenho dúvidas de que a magistratura cearense tem em seus  quadros  grandes juízes, mas destaco o Dr. Fernando Teles de Paula Lima como um dos maiores expoentes dessa nova safra. Durante os dez anos de atuação na Comarca de Massapê nunca se ouviu falar de qualquer ato que desabonasse sua conduta. Ao contrário, sempre desempenhou sua árdua missão com a mais absoluta lisura e seriedade. Fato inclusive comprovado pela aprovação de seu trabalho junto à população de Massapê. Ainda hoje me deparo constantemente com muitos populares que  lamentam sua ausência e afirmam que a sua atuação como Juiz neste município garantiu a tranquilidade e a paz da população. Sem dúvida a passagem do Dr. Fernando Teles na Comarca de Massapê marcou a história do judiciário deste município. Tive a satisfação de com ele conviver nesses dez anos. Aprendi bastante. Fui testemunha de um homem sério que tratava a todos da mesma maneira, não se importando com a origem social ou  a condição econômica. Jamais se cur

REFLEXÃO DO DOMINGO:ECLESIÁSTICO, 20 - Quando calar e quando falar

1.Há repreensões inoportunas; e há quem se cale, demonstrando ser prudente. 2. Quanto é melhor repreender, do que guardar a cólera! 3. Aquele que confessa a falta, impedirá seu próprio dano. 4. Como a paixão de um eunuco para deflorar uma jovem, assim é aquele que pretende fazer justiça pela violência. 5. Há quem, ficando calado, é reconhecido como sábio; e há quem se torne odioso, por falar demais. 6. Há quem se cale por não ter resposta; e há quem se cale por senso de oportunidade. 7. O sábio se cala até que chegue o momento oportuno; o loquaz e o insensato deixam passar a ocasião. 8. Quem multiplica as palavras se faz detestar, e quem pretende impor-se há de ser odiado. Como é belo que manifeste arrependimento quem foi censurado; pois assim há de evitar uma falta voluntária. Contrastes 9. Alguém pode tirar proveito de seus males, ao passo que uma felicidade inesperada pode transformar-se em dano. 10. Há presentes que não te são proveitosos, e há