Faz parte do jogo democrático. Depois das
manifestações de protesto de domingo, vamos assistir às de apoio
amanhã, e assim ninguém poderá dizer que ir para a rua é
golpismo. Vai ser divertido assistir à disputa para saber qual das
duas contou com maior número de participantes, qual a que foi mais
representativa, a que venceu politicamente. Entre uma e outra, o
clima esquentou. O ex-presidente Fernando Henrique, que vinha agindo
de acordo com seu estilo conciliador, subiu o tom e sugeriu que Dilma
assumisse seus erros ou renunciasse. Foi a sua inesperada versão
para o radical “fora Dilma” da passeata. Os líderes do PT na
Câmara e no Senado reagiram com virulência: um perguntou se o
ex-presidente estava “girando” bem; o outro classificou a
declaração de “pequenez política”. Pode-se prever o ambiente
belicoso desse resto de semana.
Na segunda-feira passada, o governo Dilma foi
tratado como um corpo enfermo que saíra da UTI e apenas recuperara
uma frágil sobrevida, um pequeno alívio, um pouco de fôlego. Mas
os políticos não se saíram tão bem no espetáculo. Mesmo rompido
com Dilma, Eduardo Cunha foi rejeitado, segundo o Datafolha, por 43%
dos participantes, enquanto Renan Calheiros, cada vez mais próximo
do governo, e o vice Michel Temer, ficaram com 79% e 68%
respectivamente. Os cartazes e palavras de ordem atacaram Dilma, o PT
e Lula, representado por um inédito boneco inflável vestido de
presidiário.
Figuras oposicionistas presentes, como Aécio Neves,
José Serra, Aloysio Nunes e Ronaldo Caiado, se não foram
hostilizados, também não foram exaltados. A favor só um personagem
não político, ainda que politicamente dos mais importantes: o juiz
Sérgio Moro. Isso talvez tenha motivado FHC a balançar a pasmaceira
da oposição com seu prestígio, atraindo para si o protagonismo dos
debates.
Ao convocar para o ato de amanhã, o governo está
usando um discurso otimista: o momento é difícil, mas é preciso
desfazer o pessimismo e a intolerância, é possível reverter o
quadro atual e, como subtexto, a mensagem de que há salvação para
Dilma. No entanto, por mais expressivas que venham a ser essas
manifestações, não são elas que vão decidir a sorte da
presidente nessa altura, e sim o Tribunal de Contas da União,
julgando suas contas; o Tribunal Superior Eleitoral, aceitando ou não
o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer; a Operação Lava-Jato,
que é, como se dizia antigamente do futebol, uma caixa de surpresas,
e o Congresso, que pode vir a ter a última palavra sobre o
impeachment. Merecíamos destino melhor do que torcer por Renan
Calheiros ou por Eduardo Cunha.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/os-tribunais-as-ruas-17229356#ixzz3jNccw2vF
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