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Racismo odioso, por Yvonne Maggie

Na semana passada, na página do Facebook do JN, internautas anônimos xingaram e ofenderam Maria Julia Coutinho, conhecida como Maju, apresentadora do tempo no JN, expressando preconceito e racismo da forma mais odiosa. Em resposta, milhares de pessoas manifestaram repúdio e vergonha aos racistas e apoio a Maju, por meio de e-mails e posts.
Digo milhares, pois a página do JN no Facebook tem 6,5 milhões de curtidas. Os apresentadores do JN e toda a equipe da TV Globo dedicaram minutos preciosos do telejornal em defesa da jovem jornalista. Uma campanha #SomosTodosMajuCoutinho ganhou as redes sociais. A direção da TV Globo declarou que irá processar os que fizeram essas injúrias raciais. O Ministério Público Federal também afirmou que investigará os responsáveis.

No meio dos ataques à apresentadora havia muitos dirigidos ao jornalista e diretor-geral de jornalismo e esporte da TV Globo em referência a seu livro" Não somos racistas: uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor". Entre os ataques, um me surpreendeu, especialmente, por ser de um escritor que admiro. Fernando Morais disse: “Somos ou não somos racistas, Ali Kamel?” Ele não leu o livro, tenho certeza, e para um escritor é coisa séria.

Ali Kamel nunca disse que não há racismo no Brasil. Cito alguns dos argumentos entre os muitos que poderiam ser retirados do seu livro: “O que quero dizer é que racistas são iguais, aqui ou lá fora. Impõem um sofrimento terrível. É evidente que nos EUA o racismo é rotineiramente mais duro, mais explícito, mais direto. Mas como saber se o xingamento aberto dói mais ou menos do que o desprezo velado?” 

O que ele mostra no seu livro é que o racismo no Brasil não é estrutural: “O racismo é sempre de pessoas sobre pessoas, e ele existe aqui como em todas as partes do mundo. Mas não é um traço dominante da nossa cultura. Por outro lado, nossas instituições são completamente abertas a pessoas de todas as cores, nosso arcabouço jurídico-institucional é todo ele ‘a-racial’. Toda forma de discriminação racial é combatida em lei”. 

E, ao falar sobre a questão da introdução da política de cotas, Ali Kamel alerta para os perigos que carrega em seu bojo: “A grande tragédia que as políticas de preferências [racial] e de cotas acarretam é o ódio racial. O sentimento de que o mérito não importa esgarça o tecido social.” Vejam que só esta frase espelha o que está ocorrendo com a apresentadora do JN. Ela é competente e foi contratada com base no mérito, mas nos ataques disseram que era fruto de cota para negros. Um filme de terror que muitos previram ao longo do debate sobre esta questão.

"Não somos racistas", para o qual fiz o Prefácio, foi publicado em 2006 quando o debate sobre a introdução de uma política de cotas raciais no Brasil estava na sua fase mais acirrada e tomava o coração de muitos brasileiros.
 
Em princípio deveria ser uma discussão de ideias a respeito de como combater as desigualdades e o racismo no País. Porém as emoções tomaram conta da polêmica até o capítulo final, em abril de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade das cotas raciais. 

Não escrevo para defender meu amigo e ex-aluno. Ele não precisa de defensores, pois as reações de apoio à apresentadora e contra as injúrias raciais são a prova, como é dito no livro, de que “o racismo não é um traço dominante da nossa cultura”.

Porém me revolta a forma com que nos últimos dias algumas pessoas se referiram à obra e ao seu autor. Racismo é crime hediondo e Fernando Morais, assim como outros, deveriam ter lido o livro. Nessa hora em que os racistas estão pondo as mangas de fora é preciso saber como agir para não jogar mais gasolina no fogo. Já não basta o que fizeram ao instituir um país dividido legalmente em brancos e negros estimulando o ódio racial?

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