Pular para o conteúdo principal

A palidez da esperança, por MENALTON BRAFF

Pesquisas apontam o brasileiro como um leitor de 1,9 livros ao ano. É pouco, muito pouco. nem convém aqui falar da qualidade do que se lê. É uma verdadeira enxurrada
Todos vocês devem saber quanto é difícil, em determinadas situações, manter a esperança. Eu, de minha parte, tenho alimentado algumas esperanças fazendo um esforço que me prostra e me deixa extenuado. Não sei até quando vou poder suportar a corrosão, porque ela é corrosiva, dessa “ferida verde” como a caracterizou minha amiga, a poeta Ruth do Carmo, que ultimamente me parece curada, pois não tem publicado o que escreve, se é que continua escrevendo.
Há muito tempo as pesquisas vinham apontando o brasileiro como um leitor de 1,9 livros ao ano. É pouco, muito pouco. Principalmente se tivermos em conta que o argentino lê alguma coisa aí por volta dos 8 livros no mesmo tempo, e que em países da Europa tal número é multiplicado por 2. Atualmente algumas pesquisas andaram falando em 4,9 e a gente ri como se não entendesse que o número foi elevado por brutal mudança nas técnicas de pesquisa, comparando-se, agora, laranja com abacaxi, ou melhor, somando-se dez laranjas com cinco abacaxis, quantas laranjas são? Apesar disso, quando me perguntam o que penso da leitura no Brasil, procuro mostrar-me otimista, dizendo que é preciso olhar a curva de tendência, que já foi pior do que está, que tem muita gente trabalhando para reverter essa realidade, e essas coisas todas de alimentar esperança. E para não ficar só na palavra, faço-me soldado da cruzada do incentivo à leitura. Fazia isso antes na sala de aula e continuo fazendo agora fora dela. Tenho dispendido algum tempo com o assunto.
Bem, nem convém aqui falar da qualidade do que se lê. Até posso acreditar que se lê mais hoje do que outrora, mas a verdade é que não havia tanto lixo em oferta nas gôndolas das livrarias. É uma verdadeira enxurrada.
Mas esperança é um desgaste muito grande de energia. Manter a panela fervendo, exige muito combustível. E eu, que já me alimentei de muito mito, acabei ficando um ser desconfiado de minhas próprias crenças. Depois do que vi ontem, enquanto fazia minha caminhada diária, perdi meu bom humor e minha esperança empalideceu.
De longe, podia-se ver que houvera uma fogueira na frente da casa. Pequena fogueira ao lado de uma caixa de papelão. A grama e algumas folhas de papel estavam transformadas em carvão. A uns dez passos de distância, deu para perceber que o fogo não tinha conseguido devorar tudo. Pelo menos completamente. E, à medida que me aproximava, reparei que alguma coisa estava errada. No meio dos papéis, salvara-se um dicionário apenas chamuscado.
Vocês entenderam minha perplexidade e a razão de ter minha esperança abalada? Alguém jogou um dicionário na fogueira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história do lápis, POR paulo coelho

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou: - Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse. O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.   - Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida! - Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.   “Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade”. “Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o ...

UM EXEMPLO A SER SEGUIDO: Filha de cobrador de ônibus que ir para HARVARD

"Mais do que 30 medalhas conquistadas em olimpíadas de física, química, informática, matemática, astronomia, robótica e linguística no mundo todo, a estudante Tábata Cláudia Amaral de Pontes, de 17 anos, moradora de São Paulo, guarda lembranças, contatos, culturas e histórias dos amigos estrangeiros que fez por onde passou. Bolsista do Etapa,Tábata que é filha de uma vendedora de flores e um cobrador de ônibus conclui em 2011 o terceiro ano do ensino médio e encerra a vida de "atleta." O próximo desafio é ingressar na universidade. A jovem quer estudar astrofísica e ciências sociais na Harvard University, nos EUA, ou em outra instituição de ensino superior americana. Está participando de oito processos seletivos para conseguir bolsa de estudos. "Com ciência é possível descobrir o mundo. Eu me sinto descobrindo o mundo e fico encantada com o céu" Tábata Amaral, estudante Também vai prestar física na Fuvest, medicina na Universidade Estadual de Campinas (Un...

Felicidade é sentir-se pleno

Não permita que a irritação e o mau humor do outro contaminem sua vida. Não permita que a mágoa alimentada e as reações de orgulho do outro definam a sua forma de reação.  Se alimente de um amor pleno a tal ponto que não seja contaminado por aquilo que lhe é externo. Não gere expectativas que a sua felicidade dependerá de alguém ou de alguma coisa, ou de alguma conquista. Não  transfira ao outro ou a uma circunstância aquilo que é sua tarefa. A felicidade é  um estado interior que se alcança quando se descobre a plenitude com aquilo que nos relaciona com o "todo", com o universo, com Deus. A felicidade está na descoberta da sua missão, do fazer humano em benefício do próximo, da tarefa inarredável de tornarmos este mundo melhor com a nossa presença. Ser feliz é uma atitude, uma ação, um movimento para o bem. É encher-se de  amor pela aventura da vida, é construir esperança no meio do caos, é sempre ter um sorriso aberto para o que destino nos apresenta. Felicidade é ...