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Abaixo da cintura, por MERVAL PEREIRA


Quando a presidente Dilma disse que para vencer uma eleição “faz-se o diabo”, estava antecipando a falta de limites éticos que sua campanha vem demonstrando. Ontem chegamos ao ponto máximo até agora, com a presidente da República insinuando que seu oponente é bêbado ou drogado, num golpe baixo que até mesmo no MMA é proibido.
O candidato Aécio Neves teve a única reação possível, disse que se arrependia de ter se recusado a soprar o bafômetro, e elogiou a Lei Seca. Mas encarou com altivez a adversidade, criticando sua oponente por fazer insinuações sem ter coragem de inquiri-lo diretamente. Uma tentativa de contenção dos danos por um deslize que um homem público sabe que pode ter conseqüências. Essa era uma carta previsível, diante do festival de baixarias que vem dominando esta campanha, e já fora jogada na véspera quando o ex-presidente Lula, num palanque onde estava cercado dos Barbalho – ele tem uma dívida qualquer com o chefe do clã, Jader, cuja mão beijou em outras campanhas- disse que uma pessoa que se recusa a soprar o bafômetro não pode ser presidente da República.
Logo Lula, que já foi acusado por uma reportagem do New York Times de ser um presidente bêbado, ocasião em que foi defendido por diversos políticos, e recebeu a solidariedade generalizada. Escrevi na ocasião que não havia nenhuma indicação de que o hábito de beber impedisse o presidente de governar, o que tornava leviana a reportagem cheia de insinuações.
Mesmo sem entrar no mérito de quem tem mais razão ou culpa no cartório, é espantoso que um político que já foi vítima das piores atrocidades, como a que o hoje seu aliado Fernando Collor de Mello fez na campanha de 1989, possa se utilizar de métodos semelhantes na ânsia de derrotar seu adversário.
Collor colocou no ar a mãe de Lurian, filha de Lula, para acusá-lo de tê-la obrigado a fazer aborto, uma baixaria que entrou para a história política negativa brasileira. O estrago foi grande na ocasião e desestabilizou Lula para o resto da campanha. O candidato Aécio Neves aparentemente reagiu ao ataque baixo com tranqüilidade, lembrando que Dilma usava os mesmos métodos que Collor utilizara contra a família de Lula.
O contra ataque sobre o nepotismo, apontando que Igor Rousseff, irmão da presidente, era funcionário fantasma na gestão de Fernando Pimentel na prefeitura de Belo Horizonte, num caso típico de nepotismo cruzado, foi feito pedindo desculpas por baixar o nível, querendo ressaltar que Dilma procurara atingir sua família.
Uma manobra diversionista para marcar no eleitor a idéia de que ele queria discutir programas de governo, mas Dilma levava a discussão para o embate pessoal. Aécio ressaltou isso várias vezes no debate. Explicando que sua irmã Andrea trabalhou no governo de Minas como voluntária não assalariada, no papel que poderia ser exercido pela primeira-dama, que não havia, pois era solteiro na ocasião, neutralizou um dos principais ataques de Dilma.
É claro a esta altura que a campanha, que tem tido um nível muito baixo, com acusações mútuas, não mudará de tom até as urnas a 26 de outubro. Os dois candidatos se encontram em empate técnico, e o PT demonstra, por gestos e atitudes, que não pretende abrir mão de seu projeto maior de poder assim facilmente. O desespero revelado pelo uso desmedido de ataques pessoais demonstra que a campana de Dilma tenta reverter uma derrota. Ontem, perdeu claramente a disputa. A seu desfavor, uma crise econômica que só faz se agravar, uma crise política que apenas começou, e que terá desdobramentos institucionais seriíssimos nos primeiros anos do futuro governo, e um governo precário, com resultados econômicos pífios.
Dilma agarra-se à única tábua de salvação, que é o nível baixo de desemprego, que desaparecerá brevemente com a continuidade da crise econômica. Se conseguir se reeleger em outubro, estará deixando para si uma herança maldita que fará com que os seus eleitores se decepcionem rapidamente do voto que deram.
Qualquer dos dois que se eleja, porém, terá que enfrentar uma crise econômica e política com um país literalmente dividido, especialmente depois de uma campanha devastadora como essa. Tarefa para quem tem capacidade de negociação e espírito público.

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