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O encanto da economia, por DELFIM NETO

O maior mistério do sistema econômico é como ele funciona a partir de milhões de decisões independentes, comandadas por sinais tão simples como os preços. Na realidade tomando-os como dados externos, as pessoas, as empresas e em parte o governo, determinam o seu comportamento de forma a coordenar o atendimento dos desejos de todos.
Cada agente, na busca dos seus próprios objetivos (os consumidores à procura da melhor cesta com seus gastos; os trabalhadores, no encalço de melhores salários; os agricultores, atrás da  antecipação da quantidade e da qualidade da demanda de seus produtos para maximizar a sua renda; os industriais atentos à maximização dos seus lucros; o governo empenhado no atendimento das necessidades coletivas etc.), orientado pelo sistema de preços, acaba realizando um trabalho geral aceitável.
É claro que ele não é perfeito. Existem muitas injustiças, muitos inconvenientes e as pessoas perdem a sua identidade dentro da imensa máquina. Mas a realidade é que ela funciona: podemos comprar um lápis em Roraima fabricado com materiais vindos das mais diversas regiões do mundo com a mesma facilidade e quase pelo mesmo preço de Curitiba ou São Paulo.
Para Marx, esse sistema era anárquico. Como ainda não se teorizava o caos, propôs destruí-lo e sobre ele construir outro mais “racional”, capaz de satisfazer mais inteligentemente a satisfação humana e não o lucro. Entretanto, como era mais esperto do que os seus seguidores, nunca perdeu tempo para descrever que novo sistema seria esse e, mais importante, como poderia ser realizado. Alguns de seus asseclas tentaram enfrentar por conta própria essa tarefa e os resultados não foram nada animadores.
Adam Smith, um escocês não menos brilhante, havia chamado a atenção, quase um século antes, para o fato de que a anarquia das decisões parecia esconder uma certa ordem que acabava gerando alguns resultados surpreendentes. Como perguntou ele: 1. Um cidadão anônimo plantou o trigo em um lugar desconhecido. 2. Outro, anônimo, ousou importá-lo ou comprá-lo de um agricultor local desconhecido. 3. Um industrial anônimo arriscou-se a construir um moinho ao lado de um curso d´água para transformá-lo em farinha, e finalmente, por que um padeiro anônimo produziu o pão para um cidadão anônimo do qual supunha conhecer apenas seus gostos e necessidades?
Entender essa maravilhosa complexidade tornou-se o objetivo de um novo tipo de conhecimento que às vezes se chama pretensiosamente de “ciência econômica” e que tem no mesmo Adam Smith o seu fundador conhecido! A verdade é que até hoje os economistas não conseguiriam entender corretamente (isto é, de forma a dar-lhes a mais completa tranquilidade lógica) como o sistema funciona.
É certo que nos últimos 240 anos construíram modelos cada vez mais sofisticados que imitam o mercado e são povoados por agentes que coordenam as suas ações por um sentimento de egoísmo e pelos sinais emitidos pelos preços. Mas as condições para o funcionamento desses modelos são muito restritivas. Talvez um dos resultados mais abstratos dessa construção seja um dos teoremas (de pouca utilidade prática) da chamada teoria do bem-estar: em certas condições (ausência de externalidade e de economias de escala) existe uma particular distribuição de renda que permite ao mercado, ou seja, às decisões descentralizadas, encontrar preços capazes de maximizar a satisfação de todos os agentes. Não há nada que garanta que aquela distribuição seja “justa”.
Essas questões têm levado à tentação de substituir o mercado pelo voluntarismo do governo no processo econômico. A experiência mostra que há mesmo “falhas do mercado”, mas que há também, e provavelmente maiores, “falhas do governo”, devido às suas dificuldades de informação.
Se é absurdo pensar que o mercado resolve todos os problemas, é ainda mais absurdo sugerir que o governo possa fazê-lo. É preciso insistir: a organização da economia é apenas um instrumento na construção da sociedade civilizada. Esta, sim, não se pode fazer sem uma intervenção inteligente do Estado. Talvez por isso valha a pena ser economista.

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