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Em busca da consciência, por MINO CARTA

Um especialista em humores da casa-grande expõe a tese, mas pode ser resultado de conversas a portas fechadas, de que o golpe foi desfechado na previsão de uma reação internacional adversa, e nem por isso capaz de alterar a rota. Todos os riscos haveriam de ser corridos para atingir o objetivo, destruir o Partido dos Trabalhadores. Bastava, e basta, a pronta anuência de Tio Sam. O Brasil da casa-grande acomoda-se prazerosamente à condição de satélite dos Estados Unidos.
Se for assim, Michel Temer não se incomodou ao ser escanteado na reunião do G-20. A capitis diminutio sofrida pelo presidente do Brasil atinge e humilha o País, mas nada disso importa diante das consequências imediatas do golpe praticado contra a nossa frágil democracia. Em pleno andamento em relação ao PT, pois a tarefa será cumprida somente se Lula for definitivamente afastado da corrida presidencial marcada para daqui a dois anos.
A serem estes os propósitos dos golpistas, e sempre que haja perfeita afinação entre eles, e disso cabe duvidar, resta perguntar aos botões quanto diria a respeito o espírito de Garrincha. É suficiente hoje em dia ser súdito ao império do Grande Irmão do Norte, como se lia nos vetustos editoriais do Estadão, para gozar de sono tranquilo?
O mundo mudou bastante, mudou demais, gastar palavras sobre o tema é desperdício. Tio Sam é ainda poderoso, contudo não é mais aquele. Por exemplo, está largamente endividado e a China é seu imponente credor. A política exterior do governo Lula desvencilhou o Brasil da tradicional sujeição às vontades de Washington, com evidentes vantagens para o País. Recordo um lance importante do período: se os EUA tivessem aceito a exitosa mediação de Lula junto aos aiatolás, sete anos atrás, a questão do Irã teria sido encaminhada para a solução bem antes do que, de fato, se deu. Na ocasião, o Brasil desempenhou papel de potência, bem diverso daquele de Temer na reunião do G-20.
No mundo atual, a repercussão negativa do golpe brasileiro não parece conveniente para um país necessitado de investimento estrangeiro, a contar exclusivamente com capitais que aqui chegam apenas para engordar. Na moldura cabe até a recomendação do papa Francisco de orar pelo Brasil e a dúvida que o toma em relação à possibilidade de uma visita até ontem programada para o ano próximo. A registrar o patético esforço do presidente Temer ao pretender que o pontífice, de certa forma, reze pela aceitação do golpe, ou, se quiserem, pela paz dos cemitérios, sempre a mais conveniente para a casa-grande.
E lá vem outra pergunta do espírito do nosso inesquecível Mané: era o golpe o que o povo brasileiro queria? Talvez não seja o caso de imaginar um país rachado por uma polarização exacerbada. A insatisfação popular fermenta, porém, tanto mais porque manifestada sem meios-termos, com vigorosa clareza, por milhões de cidadãos outrora tidos como “cordiais”, no sentido de resignados, para não dizer covardes. A violência de um aparato policial digno de uma ditadura, pronto a intervir ao mínimo aceno de rebeldia, prova a semelhança com situações já vividas por outros países, em outros continentes, oprimidos por regimes antidemocráticos. 
A demanda de quem protesta é inquestionável: Fora Temer e Diretas Já. Ou, pelo menos, tão logo possível. A máquina da propaganda midiática empenha-se para minimizar os fatos e maquiar as situações, e é cada vez mais ineficaz no seu intento. As Diretas Já de 1984 foram um extraordinário, inédito movimento popular nos estertores da ditadura. Agora, 32 anos após, começa a ser escrito o segundo capítulo do mesmo enredo. Há tempo, desde a primeira metade de 2015, CartaCapital adere à proposta de eleições antecipadas, solução inteligente para uma crise de outra forma insolúvel.
A ilegitimidade do governo Temer é nítida não somente a olhos estrangeiros, e o “Fora Temer” já sobrepuja o tom e o efeito do “Fora Dilma”. Bons sinais em meio ao caos. Apreciaria evitar ilusões pela enésima vez, mas lá vou eu, de novo. E me arrisco: quem sabe algum dia o brasileiro do futuro, próximo, espero, possa dizer que o golpe de uma quadrilha a serviço da casa-grande teve o condão de despertar a consciência nacional. 

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