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O filme de terror de Dilma Rousseff, por Hélio Gurovitz


Dilma Rousseff
Precisávamos de cortes, vieram mais gastos. Queríamos menos Estado, veio mais imposto. A reunião do Conselhão presidida ontem pela presidente Dilma Rousseff (foto), com a presença de empresários, banqueiros e lideranças da sociedade civil, parecia um daqueles filmes de terror em que o pior vai acontecendo, e vai acontecendo, e vai acontecendo. E vai piorando, piorando, piorando – aí piora ainda mais.

Queremos que o terror pare, então lá vem outra tragédia. Nunca para. Fechamos os olhos e ouvimos os gritos da plateia. Lá está o Freddy Kruger da nova matriz econômica a pôr a mão de novo para fora do túmulo. Lá estão os zumbis da estadolatria a repetir a mesma marcha fúnebre. Gritamos: “Não! Não! Não!”. De nada adianta. Tome CPMF, tome mais estímulo estatal ao crédito e ao consumo, em plena decolagem da espiral inflacionária, a sugar o sangue da população, a levar os preços para o alto e a destruir nossa riqueza. Não há alho nem cruzes para afastar os vampiros. Estamos todos…, bem, melhor deixar pra lá.

Esses novos R$ 83 bilhões que o governo pretende injetar agora na economia virão do balanço dos bancos estatais, do FGTS e da barafunda financeira federal. É verdade que é pouco, diante do estoque de R$ 3,21 trilhões em empréstimos na economia, registrados ano passado (mais da metade já fornecidos por entes estatais). Mas alguém está a fim de emprestar dinheiro no clima atual da economia? E os novos empréstimos serão cobertos exatamente como? Novas pedaladas à custa de nossos impostos? Ou a conta sumirá em alguma manobra de contabilidade criativa? Que tipo de cálculo permite, num Estado deficitário, endividado, com a arrecadação encolhendo, empurrar mais R$ 83 bilhões em empréstimos? 

Queria apenas um governo que soubesse fazer e apresentar contas simples como resposta a essas perguntas. Não é preciso dominar cálculos complexos, equações de derivadas parciais de segunda ordem, conjuntos transfinitos ou espaços de Banach. Contas mesmo – aquelas de mais e menos, multiplicação, divisão e um pouco de exponenciação, para captar como funcionam juros compostos, saber da importância da segunda casa decimal nos índices de crescimento e coisas do tipo. Só isso já estava bom. Será tão difícil? 

Primeiro, o governo interveio na decisão do Banco Central para evitar a alta dos juros. Agora, quer estimular o crédito e o consumo num momento de incerteza inflacionária. Falou também em "flexibilizar a meta fiscal". Até que profundidade pretende escavar o buraco do déficit público e alimentar a inflação? Os R$ 115 bilhões que ficamos devendo no ano passado já não bastam? Precisa mais? A receita de Dilma nem passa pelo corte de gastos públicos, ela só quer saber de mais impostos e da volta da CPMF. Alguém acredita que a CPMF passa no Congresso?

Como Dilma se disse aberta ao diálogo, posso ensaiar algumas sugestões. Outro dia um amigo me contou a história – real! – de uma funcionária aposentada do Judiciário, viúva, que acumulava de vencimentos do Estado um salário de R$ 40 mil com a pensão do marido, de R$ 50 mil. Resultado: todos nós, cidadãos brasileiros pagantes de impostos, arcamos com o custo das férias da família dela, mais de dez pessoas num cruzeiro nababesco. Vamos começar acabando com esse tipo de absurdo e outros, como as pensões de filhas solteiras de militares? Que tal reformar a Previdência mesmo, em vez de apenas falar nisso? Fazer uma reforma pra valer nas aposentadorias do setor público, só para começar?

Outra ideia: vamos vender ativos do Estado? A Petrobras acho que já não dá mais, porque – apesar da ligeira alta esta semana – ninguém anda muito a fim de comprar. Mas tem muita estatal por aí que não faz o menor sentido o governo manter. Que tal a Hemobras? Alguns desses Ceasas, Ceagesps e coisa do tipo? Ou o porto de Santos? A famigerada Infraero? Costa do Sauípe? Tecban? Valec? Transurb de Porto Alegre? Por que não fazer uma lista de todas as participações do governo federal em empresas de tudo quanto é setor – de automação industrial à indústria farmacêutica – e analisar o que dá pra vender?

Chega de enganar o povo com essa embromação anti-privatização. Precisamos equilibrar as contas e acabar com a roubalheira. Privatizar ajudar a resolver os dois problemas. Os empresários que vivem de mendigar no BNDES precisam aprender o custo do capital no mercado, como qualquer um de nós que faz compras a prestação. Que história é essa de financiar tudo quanto é gente em troca de dinheiro de campanha e apoio político? Precisamos é tirar o país da lama, não ficar enlameando a coisa ainda mais.

E as leis trabalhistas? O desemprego cresceu, mas será que os empresários não evitariam demissões se pudessem reduzir o custo de empregar? Não dá pra pensar um pouco com a cabeça no mundo real, em vez de dar trela para esses sindicatos oportunistas, que só defendem seu faturamento e não os funcionários que deveriam representar? Por que continuar a alimentar os delírios de redenção da humanidade por meio da sempiterna manutenção daqueles direitos que são, no fundo, privilégios – já que quase metade da economia continua na informalidade?

E a burocracia? Será que DIlma já teve a curiosidade de perguntar como o Brasil se compara com outros países nos procedimentos mais simples para recolhimento de impostos, registro de propriedades e coisa do tipo? Será que isso não tem nenhuma interferência na atitude dos investidores por aqui? Por que não perguntar a algum desses empresários empertigados que foram ontem participar da reunião desse tal Conselhão o que eles fariam? Não está na hora de olhar para o mundo real? Seria muito melhor do que injetar mais crédito na economia – mas tudo o que o governo conseguiu imaginar para recolocar o país no rumo foi a volta da CPMF e mais um chequinho de R$ 83 bi.

No filme "O mágico de Oz", a menina Dorothy é levada pelo tornado de uma paisagem em preto e branco para um mundo de sonhos, colorido, com uma estrada de tijolos amarelos. Assim que chega à terra de Oz, ela faz uma cara de supresa e, atônita, diz a seu cachorrinho: “Totó, tenho a sensação de que não estamos mais no Kansas”. Só no final do filme, Dorothy descobre que o mágico era uma fraude, um velhinho que fingia mexer numa máquina atrás da cortina, sem efeito algum. Dilma parece Dorothy. Acredita em prestidigitação e descobre, também atônita, que o cenário mudou – reconhece, nas suas palavras, “a excepcionalidade do momento”. A diferença é que antes vivíamos um colorido conto de fadas, agora estamos diante de um soturno filme de terror.

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