Pouco antes de entrar para a reunião com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvora, um ministro estava cauteloso com o resultado das manifestações desse domingo. As estimativas já indicavam uma mobilização menor do que a onda de protesto que tomou conta do país em 15 de março.
Para o governo, isso permite sair da pressão política por um tempo. “Se o movimento de hoje tivesse sido igual ou maior ao de março, certamente haveria um reflexo direto no Congresso Nacional. O Congresso não faz a cabeça da rua. Mas a rua faz a cabeça dos parlamentares”, disse esse ministro ao Blog.
Apesar do alívio pontual, o governo Dilma sabe que a crise política está longe de terminar. Os últimos dias foram mais favoráveis. A reaproximação com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), garantiu a retomada de uma frágil governabilidade no Congresso. Ao mesmo tempo, o governo ganhou um pouco mais de tempo no Tribunal de Contas da União para se defender das pedaladas fiscais.
Mas se o governo saiu temporariamente do sufoco, o núcleo mais próximo da presidente Dilma sabe que o futuro está fora do controle. Ou seja, o desfecho da crise é imprevisível. Principalmente por causa dos desdobramentos da Operação Lava Jato.
O consenso entre políticos de Brasília é que o ambiente das ruas desse domingo – mais próximo das manifestações de abril – abre espaço para fortalecer um acordão momentâneo com o PMDB e aliados no Congresso.
Porém, o governo sabe que tem uma ponta solta – e incontrolável – dessa crise política. Com frequência cada vez maior, fatos novos aparecem na Lava Jato. Novas delações premiadas estão em processo de negociação, deixando caciques do PT e do PMDB apreensivos com os rumos do escândalo de corrupção que tomou conta da Petrobras.
Por isso, observa um ministro, não dá para ignorar essa insatisfação generalizada pelo país. “Independentemente do número de pessoas nas ruas, é preciso reconhecer que Dilma bateu recorde de desaprovação. A insatisfação é real”, observou.
E o governo ainda não sabe como fazer para recuperar parte da popularidade perdida. “O quadro político não vai mudar nos próximos meses. E Dilma vai continuar pressionada. A única coisa que pode melhorar a popularidade é a recuperação da economia. Mas isso não está no horizonte imediato”.
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