Pular para o conteúdo principal

Ajustes e desajustes, Por LUIZ GONZAGA BELUZZO

Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Levy
O ministro da Fazenda Joaquim Levy (esquerda) em encontro com lideranças do PMDB em 23 de fevereiro
O tumultuado ajuste fiscal brasileiro deflagrou a troca de chumbo entre as “imposições” da economia e as resistências da política. Se consultada, a Velhinha de Taubaté diria que só os desavisados não antecipavam tal balbúrdia.
No período eleitoral e em sua posteridade, os “mercados” e seus fâmulos na mídia bradavam a “catastrófica” situação fiscal. O barulho e a gritaria foram suficientes para empurrar o governo recém-eleito contra a parede. O mercado nomeou o ministro da Fazenda. Os últimos dados divulgados pelo Tesouro não revelam a catástrofe anunciada pelo “mercado”.
Esse introito tem o propósito de avaliar os desajustes dos ajustes que atormentam brasileiros, gregos e troianos. Do olimpo da riqueza financeira global, os Senhores do Universo disparam ordens de compra e venda como Júpiter atirava raios sobre as cabeças dos mortais. Hoje, a lógica da finança globalizada, líquida e em permanente movimento não só confina os cidadãos  ao território das nações, como delimita o território a ser ocupado pela política democrática. “Territorializados” em seus espaços jurídico-políticos, os cidadãos sofrem os golpes dos movimentos mercuriais do capital sem pátria.
Entre uma bicada e outra nos títulos dos Tesouros dos emergentes castigados com juros de agiota, os mercuriais desferem chibatadas no lombo da turma que não pode escapar dos impostos e dos ajustes em seu emprego e renda, enquanto tratam de enfiar a manopla no bolso do Fisco nacional e mandar a grana para a Suíça e demais paraísos do ervanário criminoso. Em sua brutalidade, os mercados da riqueza, escoltados pelos estelionatários das agências de risco, impõem aos países os ucasses da ignorância soberana.
Para o cidadão afetado, parece fantástica a ideia de controlar as causas dos golpes do destino. As erráticas e aparentemente inexplicáveis convulsões das bolsas de valores ou as misteriosas evoluções dos preços dos ativos e das moedas são capazes de destruir suas condições de vida. Mas o consenso dominante explica que, se não for assim, sua vida pode piorar ainda mais.
Ouço Slavoj Zizek: “A falta de liberdade mascarada pelo seu oposto manifesta-se em uma miríade de formas: quando somos privados da assistência à saúde, dizem-nos que nos oferecem a liberdade de escolha (do prestador de assistência à saúde); quando não podemos mais contar com um emprego de longo prazo e somos forçados a procurar um novo trabalho precário a cada dois anos, dizem-nos que nos oferecem a oportunidade de nos reinventarmos e de descobrir novos e inesperados recursos criativos, latentes na nossa personalidade; quando devemos pagar a educação dos nossos filhos, dizem-nos que ‘investimos em nós mesmos’...”
Liberdade. A matança no Charlie Hebdo reacendeu a chama dos valores iluministas da liberdade e igualdade. Proclamadas como contraponto aos desatinos do fundamentalismo religioso, as consignas da Ilustração voltaram a incomodar as pachorrentas lideranças globais.
Acredito que, um dia, os homens e as mulheres do planeta haverão de gozar da geral e irrestrita adesão aos valores da Igualdade e da Liberdade. Por hora, suspeito que o mundo caminha na contramão. Não sei se vou estropiar Theodor Adorno, mas desconfio que o filósofo fosse tomado de angústia com as proezas do reencantamento do mundo, fenômeno avassalador da vida contemporânea. Nas pegadas de Goethe, Kant, Schelling, Hegel, Nietzsche, Marx e Weber, Adorno encarou o “susto da Modernidade”. Ao percorrer os labirintos da nova sociabilidade, descobriu o reencantamento do mundo gestado nas entranhas da racionalização capitalista.
No livro A Dialética do Esclarecimento, escrito em parceria com Horkheimer, Adorno palmilha os caminhos que levaram o projeto das Luzes a se precipitar nos braços do mito. A recaída do esclarecimento na mitologia, diz ele, não deve ser buscada tanto nas ideologias nacionalistas, pagãs e em outras mitologias modernas, mas no próprio esclarecimento paralisado pelo temor da verdade.
“Paralisadas pelo temor da verdade”, as teorias econômicas dominantes e suas políticas permanecem espremidas entre a mitologia do equilíbrio e os manuais de instrução das arrumadeiras de casa ou de alfaiates especializados em ajustar fatiotas. Os fâmulos da abstração real se entregam à farsa pseudocientífica dos modelos engalanados por matemática de segunda classe. Com tais expedientes ridículos, os sábios da finança tratam de ocultar a opressão imposta às mulheres e homens que se levantam na madrugada para trabalhar nas cidades e nos campos do planeta. Enquanto perseguem a desqualificação mesquinha e indigente dos critérios da política democrática, apresentam como inexorável a agenda dos mercados.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

COLÉGIO LUCIANO FEIJÃO COMEMORA A CONSAGRAÇÃO DO BRASILEIRO MAIS JOVEM A INGRESSAR NO ITA

A saga do aluno do Colégio Luciano Feijão, Ronaldo Chaves, com apenas 15 anos, que se tornou o brasileiro mais jovem a ingressar no ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, é destaque no facebook, na página dedicada aos nordestinos brilhantes. Ronaldo Chaves foi aluno do Colégio Luciano Feijão, é de Sobral, orgulho de todos os cearenses.  

PADRE JOÃO BATISTA FROTA LANÇA O LIVRO “NAS PEGADAS DE JESUS”

Ainda não tive o prazer de ler o livro recém-lançado pelo conterrâneo Padre João Batista Frota. Em breve com certeza comentarei com vocês. Padre João é massapeense, embora radicado em Sobral há muitos anos. Tenho por ele uma profunda admiração. Não tenho dúvida de que se trata de uma excelente leitura. Li na última edição de o Jornal Correio da Semana um belo artigo do Professor Teodoro Soares e resolvi transcrever in verbis: Monsenhor João Batista Frota, professor emérito da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), depois de publicar “Marcos de esperança” e “Construindo o amanhã”, lança nesta semana seu mais recente livro “Procurando as pegadas de Jesus”. Padre João nos faz viajar com ele, ao descrever cenários e circunstâncias de sua viagem ao Oriente, ora de trem que chega a perder numa estação, ora de navio que lhe faz dançar sem querer. Seu trajeto inclui espiritualidade e realidade hodierna. Preparado para recitar o salmo 122 (“nossos passos já se detêm às tuas portas, Jerusal

NOSSA RECONHECIMENTO AO DR. FERNANDO TELES DE PAULA LIMA

Não tenho dúvidas de que a magistratura cearense tem em seus  quadros  grandes juízes, mas destaco o Dr. Fernando Teles de Paula Lima como um dos maiores expoentes dessa nova safra. Durante os dez anos de atuação na Comarca de Massapê nunca se ouviu falar de qualquer ato que desabonasse sua conduta. Ao contrário, sempre desempenhou sua árdua missão com a mais absoluta lisura e seriedade. Fato inclusive comprovado pela aprovação de seu trabalho junto à população de Massapê. Ainda hoje me deparo constantemente com muitos populares que  lamentam sua ausência e afirmam que a sua atuação como Juiz neste município garantiu a tranquilidade e a paz da população. Sem dúvida a passagem do Dr. Fernando Teles na Comarca de Massapê marcou a história do judiciário deste município. Tive a satisfação de com ele conviver nesses dez anos. Aprendi bastante. Fui testemunha de um homem sério que tratava a todos da mesma maneira, não se importando com a origem social ou  a condição econômica. Jamais se cur