
Meus amigos, vamos falar de educação, tema ao qual tenho me dedicado e sobre o qual já me referi em muitos posts. No dia 8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, li no jornal “O Globo” a notícia com os dados mais recentes sobre o nosso combalido sistema educacional. Podemos dizer que houve avanços? Claro, nos anos 1960 quantas pessoas estavam na escola? E quantos se formavam? Cinquenta anos mais tarde, temos algumas conquistas. O acesso à escola está praticamente universalizado. Há mais jovens de 14 a 17 anos frequentando as salas de aula. Porém, os números levantados pela organização não governamental Todos pela Educação não podem nos deixar tranquilos. A manchete do jornal revela o tamanho da tragédia. Só metade dos jovens brasileiros conclui a escola até os 19 anos, idade considerada adequada para o término do ensino básico.
A pesquisa do Todos pela Educação analisou dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para saber se estamos no caminho para atingir as metas traçadas para 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil. Segundo a entidade, a previsão para 2022 seria a de que 95% dos jovens de 16 anos deveriam terminar o ensino fundamental e 90% ou mais dos jovens de 19 anos deveriam concluir o ensino médio. Pareciam metas fáceis, porém a pesquisa mostrou haver estagnação do fluxo de alunos no sistema. Ou seja, os estudantes não avançam nas séries, ficando muito mais tempo na escola do que o necessário. No ensino fundamental a situação é melhor: 71% dos jovens de 16 anos concluem esta etapa do ensino, mas o ritmo da expansão é muito lento sinalizando que será difícil atingir as metas traçadas. O estudo mostra também as disparidade regionais e sociais.
Em excelente matéria do jornal “O Globo”, de 8 de dezembro, o jornalista Eduardo Vanini mostra a gravidade do problema dando como exemplo o caso de um estudante de 14 anos, do primeiro ano de ensino médio, que saiu da escola. Tendo de trabalhar para ajudar a família, o jovem tentou estudar à noite, mas perdeu o estímulo porque a escola era ruim, os professores faltavam e os equipamentos eram péssimos. Só mais tarde, aos 21 anos, entrou no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) para obter o diploma do ensino médio.
Na minha pesquisa, observando o cotidiano de escolas do ensino médio do Rio de Janeiro, seus rituais, aulas e conselhos de classe, vejo casos como esse, e vejo muito mais. Vejo estudantes tentando terminar a escola e sendo reprovados sistematicamente. Há quem fique cinco anos para finalizar os três anos obrigatórios. Alguns acabam terminando por esforço próprio, outros desistem.
A escola é desestimulante, os professores faltam, e podem faltar, legalmente, no Rio de Janeiro, até uma vez por mês sem justificativa. Os equipamentos são ruins e a gestão é muito problemática, porque os diretores e coordenadores não conseguem estimular seus professores a lidar com jovens que não veem muito sentido nas 15 matérias lecionadas. Muitos professores são bem preparados, mas também não veem sentido em ensinar para estudantes que, segundo dizem, são de famílias desestruturadas e não se interessam pelos estudos. Já ouvi frases como “eles não têm jeito” ou “eles não querem nada”.
A vida na escola pode ser até agradável. A grande maioria dos estudantes diz que gosta de ir à escola, não necessariamente para estudar, mas para encontrar seus amigos, sair de casa e das obrigações familiares, conhecer novas pessoas. Mas a maior parte deles gostaria de terminar os estudos para ter uma vida melhor do que a de seus pais.
Então, o que falta para que as escolas públicas consigam melhorar o desempenho de seus alunos? O que falta para atingirmos as metas?
Em excelente artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo” em 7 de dezembro, “Por que é difícil melhorar a educação no Brasil”, o sociólogo Simon Schwartzman expõe as razões e o tamanho do problema. Há muito a fazer, diz ele, que frisa que a escola faz a diferença. Uma boa escola e uma boa educação não podem, sozinhas, resolver as grandes iniquidades e desigualdades socioeconômicas, mas podem sim ajudar muito nesta tarefa. É preciso trilhar um caminho árduo.
Entre as muitas coisas que a escola e os formuladores de políticas públicas têm de fazer, no meu entender, além de tudo o que diz Simon Schwartzman no artigo citado acima, é uma campanha acirrada para que nossas ideias sobre como ensinar sejam revistas. O problema central que faz com que as escolas públicas não sejam comunidades atraentes é a concepção vigente de boa escola e de o que fazer com os que não estão aprendendo a lição. Para a maioria dos brasileiros e para os que vivem a vida de escola, incluindo familiares e estudantes, sem contar professores e gestores, a boa escola é a escola severa, que reprova quem não aprendeu. Os melhores colégios particulares não estão isentos dessa estratégia. Essa maneira de lidar com as diferenças de talento e de herança educacional dos estudantes é o x da questão. O dia em que os professores se desarmarem diante de suas turmas irrequietas e de jovens cheios de celulares e WhatsApp e descobrirem que ensinar pode ser uma tarefa emocionante teremos uma escola republicana. Uma escola cuja missão é ensinar a todos.
Tenho certeza de que esse dia chegará porque podemos ver, nesses últimos anos, que as vozes que gritavam no deserto estão se fazendo ouvir. Penso na batalha cotidiana de um desses pesquisadores incansáveis, Sergio Costa Ribeiro, cuja missão foi a de convencer que a repetência era o maior problema da educação brasileira e não, como em geral se achava, a necessidade de trabalhar. Infelizmente, ele não viveu o suficiente para ver o resultado de sua batalha. Hoje a sociedade brasileira vislumbra a importância da educação e muitos pesquisadores, organizações não governamentais como o Todos pela Educação, governos estaduais, municipais e o governo federal estão centrados em criar metas que façam com que um dia todos os brasileiros terminem a escola na idade certa e sabendo a lição. Isso em si já é um avanço.
Foto: Reprodução/Bom Dia Brasil
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