Pular para o conteúdo principal

De pernas para o ar, POR MENALTON BRAFF

Meu amigo Adamastor, que além de gigante é carnívoro, me chegou ontem aqui em casa pálido, trêmulo, um olhar meio alucinado. Conheço o Adamastor há muito tempo, na realidade desde os tempos em que andei estudando “Os Lusíadas”, quando o mundo era diferente, isto é, ainda não andava de pernas para o ar. E tanto o conheço que previ problemas graves em sua vida.
Apontei-lhe uma cadeira e o servi de um cafezinho. Seus lábios arroxeados me preocuparam, então instei com ele para que me contasse o que acontecera.
Sua história, apesar da simplicidade, tinha um conteúdo extremamente grave. Contou, depois de algum tempo em que só bebericava o café, que no dia anterior resolvera matar um frango para assar. Era o almoço de domingo, e, diferentemente de seus ancestrais, que nos domingos só comem peixe, ele prefere frango assado. Bom, e daí?, perguntei. Que mal há nisso? Acontece, ele continuou, que um vizinho, por cima do muro e de oitiva, assistiu à cena do crime. E correu para denunciá-lo.
− Que faço agora?
Servimo-nos de mais café, porque o problema demandava tempo para que surgisse alguma ideia razoável. Por fim, meu combustível é o café, tive a ideia da solução. Você pinta os cabelos, está entendendo?, muda de nome e arranja documentos com a nova identidade, e vá morar em outro estado, bem longe, de preferência trabalhando de peão em alguma fazenda, emprego aonde ainda não chegou a burocracia.
Hoje meu amigo embarcou para os fundos do Brasil, tão transformado que nem eu, seu maior amigo, consegui identificá-lo.
Sentado na minha cadeira predileta, olhando um pôr do sol deslumbrante, me lembrei de uma menina que jogou um gato pela janela e a população de sua cidade quis apedrejá-la. Me lembro de um candango, em Brasília, que matou uma ave para comer e foi preso. Seu crime foi considerado inafiançável. Enquanto nuvens vermelhas e azuis se sucediam no céu, as lembranças me foram chegando. Aquele caso de um laboratório, agora fechado, porque invadido, roubaram-lhe os cães. É um caso recente, e imagino que todos vocês ainda se lembrem dele.
Na semana passada, bem aqui perto de mim, um menino de dois anos morreu na porta de um posto de saúde por falta de médico. Um cidadão revolveu-se por horas na porta de um hospital, até morrer sem socorro. Vi na televisão. Todos vocês viram. Aconteceu alguma coisa? Todos nós conhecemos casos e mais casos de homicídios cujo resultado, além da morte de uma pessoa, é nenhum. Me lembro de um relato, em Belém do Pará, de um pai cujo filho tinha sido morto havia cinco anos e seu executante (um caso de namorada que preferiu mudar de lado) continuava passeando pela calçada de sua vítima como se tivesse cometido ato de heroísmo. E vou para por aqui porque os casos são muitos e mais do que conhecidos.
Então refleti: a vida e o conforto dos animais é a bola da vez. Cuidado com o lugar onde pisa. Geralmente existe vida animal em toda parte. Com a vida humana, com essa, não se tem de tomar cuidado. O mundo está cheio de gente.
Quem nos livrará desta praga do “politicamente correto”

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história do lápis, POR paulo coelho

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou: - Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse. O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.   - Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida! - Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.   “Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade”. “Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o ...

Felicidade é sentir-se pleno

Não permita que a irritação e o mau humor do outro contaminem sua vida. Não permita que a mágoa alimentada e as reações de orgulho do outro definam a sua forma de reação.  Se alimente de um amor pleno a tal ponto que não seja contaminado por aquilo que lhe é externo. Não gere expectativas que a sua felicidade dependerá de alguém ou de alguma coisa, ou de alguma conquista. Não  transfira ao outro ou a uma circunstância aquilo que é sua tarefa. A felicidade é  um estado interior que se alcança quando se descobre a plenitude com aquilo que nos relaciona com o "todo", com o universo, com Deus. A felicidade está na descoberta da sua missão, do fazer humano em benefício do próximo, da tarefa inarredável de tornarmos este mundo melhor com a nossa presença. Ser feliz é uma atitude, uma ação, um movimento para o bem. É encher-se de  amor pela aventura da vida, é construir esperança no meio do caos, é sempre ter um sorriso aberto para o que destino nos apresenta. Felicidade é ...

NOSSA RECONHECIMENTO AO DR. FERNANDO TELES DE PAULA LIMA

Não tenho dúvidas de que a magistratura cearense tem em seus  quadros  grandes juízes, mas destaco o Dr. Fernando Teles de Paula Lima como um dos maiores expoentes dessa nova safra. Durante os dez anos de atuação na Comarca de Massapê nunca se ouviu falar de qualquer ato que desabonasse sua conduta. Ao contrário, sempre desempenhou sua árdua missão com a mais absoluta lisura e seriedade. Fato inclusive comprovado pela aprovação de seu trabalho junto à população de Massapê. Ainda hoje me deparo constantemente com muitos populares que  lamentam sua ausência e afirmam que a sua atuação como Juiz neste município garantiu a tranquilidade e a paz da população. Sem dúvida a passagem do Dr. Fernando Teles na Comarca de Massapê marcou a história do judiciário deste município. Tive a satisfação de com ele conviver nesses dez anos. Aprendi bastante. Fui testemunha de um homem sério que tratava a todos da mesma maneira, não se importando com a origem social ou  a condição econô...