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O sujo e o belo, por Sandro Vaia

Por um mês os corações e mentes mudam de foco: o grande tema nacional passa a ser o grave problema representado pelo vazio que fica nas costas do lateral esquerdo Marcelo quando ele avança para apoiar o ataque.(E quando não avança, ele mesmo trata de fazer o gol para o adversário).

É preciso fechar essa brecha por onde o inimigo pode se infiltrar em nossa defesa.
Felipão tem que dar um jeito nisso. É a grande preocupação nacional que suspende provisoriamente os debates sobre as eleições, sobre os estádios superfaturados, sobre as manifestações de rua, as mazelas da saúde, da educação, do transporte público e até o humor irascível de Joaquim Barbosa, que anda sem paciência para aguentar advogados desaforados.
O foco agora é o futebol, a grande paixão nacional. Como disse o economista Luiz Gonzaga Belluzo, ex-presidente do Palmeiras e ao mesmo tempo um dos mentores do falido Plano Cruzado, numa entrevista a Bob Fernandes, do terramagazine.com.br, o futebol brasileiro “é uma sujeira”.
Mas onde não é? Considerando as acusações contra Joseph Blatter, o presidente da Fifa, os constantes escândalos europeus em jogos arranjados para beneficiar a máfia de apostadores, a informação de que alguém da Fifa foi subornado para garantir a realização da Copa de 2022 no Qatar, a conclusão é que a “sujeira” relatada por Belluzo é universal.
Cessa tudo quanto a antiga musa canta que um valor mais alto se alevanta: a bola rolando.
Alguns intelectuais, como o argentino Jorge Luiz Borges, desprezavam o futebol e achavam que era um esporte popular porque “a estupidez é popular”. Desconte-se o fato de que Borges era quase cego e possivelmente não tinha condições de fruir pelo menos a beleza plástica do esporte.
Em compensação, outro intelectual, Albert Camus, que foi goleiro na juventude, dizia que “o que mais sei sobre a moral e as obrigações do homem devo ao futebol”.
A verdade é que a Copa do Mundo reúne as atenções de quase metade da população mundial, e os cálculos são de que 3,5 bilhões de pessoas se deixam envolver pelas emoções do futebol.
Um país conturbado por uma guerra política, às vésperas de uma eleição importante, deixa de lado todas as mazelas que o afligem, suspende as discussões sobre corrupção, pibão, pibinho, inflação, decreto 8.243 e o que é melhor ou pior para o futuro do País, e passa a calçar as chuteiras da Pátria e a votar unanimemente nem no governo nem na oposição, mas em Neymar. Este, sim, nos representa.
Uma revista de alta qualidade e grande conceito internacional, a The Economist, deu a explicação definitiva sobre a paixão pelo futebol que Belluzo lembrou em sua entrevista: “the business is dirty, but the game is beautiful”.
Esqueçamos a sujeira do negócio e fiquemos com a beleza do jogo. Gol.

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla). E.mail: svaia@uol.com.br

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