Tudo começa de dentro para fora
Talvez
uma das maiores dificuldades que temos na vida corporativa e no
âmbito pessoal é
compreendermos o conceito de liderança. Destaquei, nesse contexto, a
vida pessoal pois lá também o exercício da liderança deve ser
vivenciado
em sua plenitude sob pena do soçobramento da harmonia entre seus
membros e, por corolário, do desmoronamento dos valores familiares.
Não se há de distinguir ser líder em casa ou no trabalho. Ambas
situações se entrelaçam de forma indissociável.
Suas
ações em família indicam sua atuação no trabalho. Se em casa sua
relação é pautada pelo desrespeito, pelo absenteísmo, pela falta
de compromisso, torna-se-á óbvio que tais práticas transcenderão
o espaço do lar e refletir-se-ão na sua atividade laborativa. Daí
entendermos que o exercício da liderança começa no recôndito do
lar e, por extensão metafórica, no espaço íntimo de nossos
pensamentos. Melhor dizendo: Tudo começa de dentro para fora.
É
claro que precisamos afinar nossos instrumentos, primeiramente, na
vida pessoal: equilíbrio nos gastos do orçamento familiar, criar
espaço para uma relação em família sob o imperativo do diálogo,
organizar seu tempo para as necessidades urgentes e prioritárias,
saber cobrar responsabilidades, cuidar da saúde, implicando
abstinência ao exagero.
Com
essas experiências vivenciadas, só então estaremos aptos a nos
tornarmos líderes no mundo corporativo. Lembro-me da máxima do
maior orador sacro da língua portuguesa, autor de "Os Sermões",
Padre Antônio Vieira: Só o exemplo educa. Parafraseando o eminente
escritor, di-lo-ei:
Só o exemplo nos torna um líder.
Seremos
capazes de convencer, de motivar o outro, de exercitarmos a liderança
plena, à medida que nossas ações correspondam ao nível de nossas
exigências. Se falamos algo, cobramos algo, mas fazemos diferentes,
não estamos inspirando, educando, ao contrário, impelimos o outro a
agir com uma personalidade travestida, mascarada. Só a transparência
é capaz de convencer. Se você é austero, continue austero; se você
prima pela perfeição, continue primando pela perfeição. Pior
seria se tornar uma personagem mutável ao calor das ocasiões,
transparecendo algo que não lhe é próprio. Para ser líder não é
necessário um sorriso constante no rosto, uma caridade inútil, um
gesto de cortesia exagerado.
Ser
líder, na verdade, é ser coerente, é ser você mesmo. Se seu jeito
de ser não é agradável a todos, fazer o contrário para parecer
bacana é tão irreal quanto querer armazenar a água do mar numa
cumbuca. Seja você mesmo, afinal todos nós somos diferentes. Mas se
permita rever seus atos, corrigir suas ações.
Outro
ponto que reputo de real preocupação é reduzirmos o conceito de
liderença a uma permissividade na ação praticada pelo subordinado,
além da aceitação indecorosa da atitude irresponsável e
incompetente de um liderado. Tudo em nome da bondade, da empatia. Não
digo que ser empático seja um defeito, pelo contrário, admito a
empatia como uma das maiores qualidades de um líder. O que me leva a
questionar é que muitas vezes não saímos da zona de conforto pelo
medo de magoar o outro e , como consequência, aceitamos que nossos
liderados pratiquem as piores atrocidades.
Não
percebemos, entretanto, que a nossa omissão em não corrigi-lo,
chamá-lo à responsabilidade, porá em risco o futuro de uma empresa
e o que é mais grave, atingirá inocentes, mormente aqueles que com
zelo e compromisso dedicam sua vida ao trabalho. Dessa forma entendo
que o exercício da verdadeira liderança perpassa pelo compromisso
de enxergar o coletivo como fim último, inarredável, sob pena de um
só apodrecer todo o cacho de uvas.
Finalizo,
por dizer, que ao analisarmos a aceitação dos nossos subordinados
ao nosso jeito de liderar, tenhamos cuidado com os aplausos em
demasia, com os elogios gratuitos. Muitas vezes tais manifestações
são apenas frutos do expediente da bajulação. Afinal, há uma
máxima há muito reverenciada que diz: "O segredo do sucesso
não se sabe. Do fracasso, é querer agradar a todos".
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