Não teremos um
relacionamento próspero com Deus se insistirmos em vivenciá-lo
exclusivamente numa dimensão vertical, única e individual. Não há
religião senão na vivência do coletivo. O que queremos dizer: que
toda experiência de fé para ser bem sucedida se exterioriza no
encontro com o outro, com o próximo, com o humano. Não temo dizer
que uma experiência religiosa unicamente contemplativa não passa de
um equívoco da subjetividade exacerbada, uma plano de fuga, um
auto-engano.
O Deus que eu acredito
não é um Ser distante, que vive no étereo, que se conforma em
manter com suas criaturas uma relação superficial, isolada e
indiferente. Não é Aquele que anseia ser louvado no ato solitário
de sua criatura. Na verdade, a aproximação e a intimidade com o
Sagrado se estabelecem na fronteira das nossas relações com o
nosso próximo, com aqueles com quem convivemos e repartimos o pão,
com quem experimentamos a entrega e a compaixão.
Em Mateus 18:20, Jesus
nos diz: “ Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou no meio deles.” Este versículo nos diz muito,
mas muitas vezes passa despercebido. Para mim, nele está toda a
essência do ensinamento de Cristo. Ele nos deixa claro que o
Evangelho é uma prática constante de serviço e de encontro com o
próximo. Sem o encontro com o “próximo” nossa experiência
religiosa é capenga e deletéria. Serve apenas para despertar o
egoísmo, o falso discurso, além de sepultar a nossa vocação
gregária.
C. S. Lewis, em sua
memorável obra “Cristianismo Puro e Simples”, nos chama a
atenção para a Lei Moral como elemento caracterizador da atitude
humana voltada para a prática do bem, cuja aptidão, segundo o
autor, vem determinada no ato da criação. Somos concebidos por Deus
para a experiência do amor, da solidariedade, da compaixão. Todavia
a liberdade que nos foi dada e muitas vezes o distanciamento do homem
para com seu criador o conduz à prática do mal.
Estudos científicos
recentes chegaram à conclusão, diferentemente do que muitos
cientistas ao longo tempo imaginavam, que nós humanos temos um
cérebro social, ou seja, esta extraordinária máquina nos conduz
a pensar sobre outros seres humanos. Nosso cérebro possui circuitos
dedicados a compreender outras pessoas, a sentir o que os outros
estão sentindo(empatia).
Essas constatações nos
levam a concluir que fomos criados programados para a realização do
bem, cuja promoção se concretiza naquilo que fazemos em favor
daqueles com quem convivemos e do espaço onde habitamos. A obra
divina é perfeita. Ela se revela na ideia da coletividade, jamais da
individualidade. O que Deus nos propõe é enxergá-lo não no alto,
no pico, mas sim no encontro com o necessitado, com a viúva, com o
órfão e com todas aqueles que juntamente conosco preenchem esta
jornada terrena(Mateus 25:35).
Lamento os que vivem sua
fé buscando a Deus de forma solitária e unicamente contemplativa.
Arrisco em dizer que desta maneira jamais o encontrarão. Além
disso, se assim persistir, mergulharão, como dizia João da Cruz,
numa noite escura, cuja consequência será a dor e a perda do
sentido da existência.
Só nos realizaremos como
humanos e só viveremos uma experiência religiosa exitosa se
compreendermos que a verdadeira felicidade está no ato de servir e
isto exige de nós um compromisso relacional com os nossos
semelhantes. Toda fé baseada na individualidade é cega e está
profundamente distante de Deus.
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