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O preço do exagero, por THAIS HERÉDIA

Os ciclos econômicos são inevitáveis. Eles vêm e afetam todas os países, desenvolvidos ou não, ricos ou não. As economias crescem, se desestabilizam, diminuem, se estabilizam e retomam o crescimento. A diferença entre os estágios, o prazo e a intensidade em cada um deles, vai depender da maturidade social e institucional de cada nação. O que é comum a todos, e é também inevitável, é a conta pelos exageros cometidos principalmente na bonança.
O exemplo mais recente e de proporções planetárias foi a quebradeira de 2008. Era uma euforia sem precedentes, todo mundo ganhando muito, fazendo dinheiro nascer em árvore e consumindo tudo que havia disponível. A bolha ficou tão grande que, quando explodiu, “choveu” crise pelos quatro cantos. Pelo seu tamanho e dinamismo, os Estados Unidos provaram mais um vez que têm um dinamismo inesgotável e, claro, são donos da moeda do mundo. Pela sua estrutura arcaica e envelhecimento das instituições, a Europa sofreu mais e leva mais tempo sair da crise – eles já pararam de cair, agora testam a estabilidade para avançar na retomada.


E o Brasil? Bem, em 2008 o Brasil vivia o auge do seu fortalecimento macroeconômico, da inclusão social, da participação nos grandes debates do mundo e era o exemplo de um país “recém-nascido” na estabilidade financeira e rapidamente fortalecido. A manutenção de uma política pública que equilibrava o peso do Estado versus a força da iniciativa privada e, sobretudo, segurava a inflação com rédea curta, foram determinantes para o país alcançar aquele status. Tão importante quanto fazer a nossa lição de casa, a pujança da economia internacional, a flutuação de capital pelo mundo e a confiança cega no paraíso sem fim tiveram peso fundamental nesta construção

O tempo que impôs caos aos países desenvolvidos impôs ao Brasil a necessidade de uma mudança na agenda do país. Aquele era o momento para avançarmos numa próxima etapa de reformas estruturais para ganhar eficiência e produtividade, reduzindo custos e aumentando a segurança jurídica dos negócios. Era o momento para dar consistência ao potencial exibido até então, absorvendo o capital que ficou perdido mundo a fora sem porto seguro. Aqui temos tudo para se fazer: saúde, educação, serviços, estradas, energia elétrica, credito, moradia - uma lista bem atrativa.
O Brasil também vivia o ciclo do crescimento pre-2008 e precisou corrigir os rumos da mesma forma que todo o resto. Mas nós tínhamos força para passar rápido pela etapa da retração. E mais ainda, nós poderíamos ter liderado entre os emergentes a ocupação de espaços relevantes na economia internacional deixados pelos “ricos”. Mas não. O país optou por consumir a “poupança” formada naqueles anos todos, dando inicio a um processo de distorção que, em pouco tempo, se transformou num ciclo de desestabilização – que não só nos manteve na trajetória de queda da economia, como nos empurrou com violência para um novo mergulho de retração.
E não foi por falta de avisos ou alertas. Há pelo menos 3 anos que as análises sobre as nossas escolhas apontavam um destino perigoso. Estávamos cegos e surdos, iludidos na crença de que um Estado tudo pode e é capaz de financiar os exageros dos governantes sem custo ou cobrança futura. A conta chegou. A recessão está instalada, a inflação inerte aos instrumentos de controle voluntários, como a taxa de juros, e involuntários, como a queda brusca da economia. Dinheiro mais caro e PIB negativo raramente dão um resultado diferente do que inflação em queda. O Brasil assumiu, mais uma vez, a exceção à regra – desta vez, pelos piores motivos.

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