A declaração do vice-presidente Michel Temer de que será "difícil" a presidente Dilma Rousseff resistir a mais três anos e meio de governo se mantiver os atuais índices de popularidade gerou "perplexidade" dentro do Palácio do Planalto e até mesmo em aliados do PMDB. A fala seca e direta do peemedebista permite medir o tamanho de seu distanciamento do governo.
Temer fez a afirmação durante um debate nesta quinta (3), em São Paulo, com o grupo Política Viva, organização que se autointitula suprapartidária e reúne empresários e estudiosos.
O "day after" da declaração polêmica foi marcado por avaliações políticas dentro do Planalto. No discurso oficial, o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) tentou colocar panos quentes sobre a história, dizendo que a fala do vice foi usada "fora de contexto". No entanto, nos bastidores, os palacianos reconhecem que essa interpretação de Edinho não é cabível.
Há duas leituras para a declaração na qual Temer mandou um recado muito claro ao governo. Primeiro, de que, por estratégia política, ele decidiu elevar o tom para se consolidar como alternativa a um eventual afastamento da presidente da República. Outra é de que o vice ainda não digeriu a forma como Dilma faz política, com seus avanços e recuos inesperados.
A questão é que, enfraquecida com seus 8% de aprovação, a presidente não tem sequer como reagir à fala do vice, classificada internamente como "incompatível com o perfil dele".
Mesmo diante da polêmica gerada pela afirmação, Temer não escalou ninguém para explicar ou justificar a fala. Pessoas próximas ao vice admitem que a análise do peemedebista sobre a situação política da presidente foi inoportuna, porém, ele não manifestou nenhum interesse em fazer algum tipo de reparo.
Aliados de Temer afirmam que ele simplesmente deu voz ao que está na cabeça de todo mundo, fazendo uma espécie de desabafo em razão de ter se sentido fritado dentro do governo. O vice, dizem pessoas que convivem com ele, compara sua situação política à do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem sido bombardeado por fogo amigo do governo.
Temer sente, contam aliados, que se tornou alvo de fofocas e insinuações de infidelidade no Palácio do Planalto desde que fez um apelo público pedindo a unificação do país em meio a um dos momentos mais críticos da crise política que tomou conta da Esplanada dos Ministérios no segundo mandato de Dilma.
Ele ainda não superou a reação que houve na ocasião, dentro do governo – especialmente por parte de ministros petistas –, por conta do trecho do pronunciamento no qual disse que "é preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos". À época, ministros do PT ventilaram que a frase indicava a atuação de um conspirador.
No final do evento desta quinta com o grupo Política Viva, Temer teve uma reação muito forte ao ser indagado por um dos participantes se ele preferia entrar para a história como um estadista ou como um oportunista.
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