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Bagagem cultural é decisiva para a redação do Enem, POR ANDREA AMARAL

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A redação do Enem é como a vida: não basta conhecer a técnica, é preciso ter conteúdo. No caso dos jovens, que ainda estão em fase de construir experiências, a melhor forma de adquirir conteúdo é o contato com textos literários.

O Enem pede uma redação que mostre capacidade de relacionar ideias e contextos, encadear argumentos, escrever de acordo com a norma culta, propor alternativas lógicas para resolver problemas. Parece simples, mas, para fazer um texto que vá além da técnica, é preciso ser um leitor.

Como escrever sobre reforma agrária sem ter se emocionado com o “Funeral de um Lavrador” (Chico Buarque) ou “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto)? Como escrever sobre a polêmica entre censura e liberdade de expressão, sem conhecer “É proibido proibir” (Caetano Veloso), “Apesar de você” (Chico Buarque), os cartuns de Henfil ou “Os Estatutos do Homem” (Thiago de Mello)?

Como falar de preconceitos e inclusão sem mergulhar na letra de “Dia de Graça”, de Candeia? Como tratar de ecologia ou dos conflitos entre o urbano e o rural sem conhecer “Triste Berrante”, de Adauto Santos? Como dissertar sobre a complexidade da vida sem ter lido que “viver ultrapassa todo entendimento”, como escreveu Clarice, ou que “uma parte de mim é todo mundo, e outra parte é ninguém: fundo sem fundo”, nas palavras de Ferreira Gullar?

Nesse ponto o Brasil é um país privilegiado, não só pela riqueza da sua literatura, mas também da sua música. Queiramos ou não, essas e tantas outras narrativas vão formando nossa identidade, nossas visões de mundo. Somos lavrados pelas reflexões e emoções que os textos nos provocam, pelas atitudes que eles inspiram.

O fenômeno de meio milhão de zeros e apenas 256 notas máximas na prova de redação do Enem deixa uma questão, não só para os estudantes do ensino médio, mas para todos nós, cidadãos digitais. Nesse amálgama de informações, falta tempo para mergulhar com a devida atenção nas mensagens de romances, poemas e músicas que são os pilares de nossa cultura. Quem ficar o tempo todo apenas em redes sociais poderá constituir uma identidade rica e plural? Poderá aportar conteúdo criativo e transformar o esqueleto de “introdução – meio – conclusão” numa página viva, colorida, instigante e consistente?

Provavelmente, estamos vendo o impacto de uma fase de transição. É possível que nós e as próximas gerações aprendamos a selecionar e editar mais e melhor esse enorme fluxo de informações. 

Um papel decisivo é o dos professores, que podem levar para a sala de aula toda a riqueza de nossos mais belos textos. Enquanto isso, eles continuam lá, esperando por nós para ser desvendados e, sutilmente, mudar nossas vidas.

Foto: Reprodução/TV Tem

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