Afirmar que a participação dos pais é benéfica para a vida escolar de crianças e adolescentes parece óbvio, embora um estudo norte-americano dos sociólogos Robinson e Harris (2013) tenha colocado essa certeza em xeque [um resumo publicado recentemente no New York Times pode ser lido aqui, em inglês].
Segundo a pesquisa, não há evidências de que alunos cujos pais se envolvem na vida escolar, como por exemplo acompanhando o dever de casa ou comparecendo a reuniões da escola, tenham um desempenho melhor. Ao contrário, em alguns casos, os resultados podem até piorar.
Isso não significa, porém, que os pais não devam participar. Ao contrário, a própria pesquisa mostra que um dos fatores que mais influenciam positivamente é o quanto os pais conseguem comunicar aos filhos o valor da escola e do estudo.
O que tudo isso pode nos dizer, no contexto da educação brasileira?
Em primeiro lugar, há que levar em conta diversos aspectos socioculturais. Em alguns países, por exemplo, uma parte significativa das famílias têm boa formação acadêmica. Pai e mãe concluíram o ensino superior, têm vida cultural variada, frequentam museus, levam os filhos ao teatro, têm livros em casa. Neste caso, mesmo que os pais não se envolvam diretamente nas tarefas escolares, o ambiente doméstico já complementa e amplia o trabalho da escola.
No caso de muitos alunos brasileiros, em contrapartida, a escola ainda é o principal lugar para organizar conhecimentos e desenvolver competências essenciais. Além disso, enquanto em outros países a escola funciona em tempo integral, nossa jornada escolar só tem quatro horas. Os pais deveriam, assim, ampliar as oportunidades de aprendizagem, em vez de limitá-las à sala de aula.
Nesse sentido, o dever de casa cumpre um papel considerável. Prova disso é o estudo dos pesquisadores Maurício Fernandes e Cláudio Ferraz, divulgado em março deste ano, que mostra que alunos cujos professores têm a prática de passar deveres de casa alcançam resultados expressivamente mais altos do que aqueles cujos professores não passam tarefas [a pesquisa está disponível aqui].
Na educação de hoje, o dever de casa tem funções didáticas relevantes: pode reforçar a aprendizagem de um conteúdo, estimular a reflexão sobre um tema, funcionar como motivação para a aula seguinte, ajudar a criar o hábito de estudo. Por tudo isso, tanto melhor se os pais puderem garantir que ele seja realizado diariamente e que a criança assuma esse trabalho com progressiva autonomia.
Outra contribuição possível dos pais brasileiros é acompanhar a qualidade do próprio trabalho escolar. Os resultados de avaliações como Prova Brasil ou Enem mostram que os alunos estão aprendendo menos do que deveriam. Conhecer o Ideb da escola dos seus filhos, frequentar as reuniões de pais e exigir melhorias são caminhos necessários para elevar a qualidade do nosso sistema educacional.
Cabe à escola, por sua vez, explicar claramente o que os pais podem fazer para reforçar o seu trabalho.
Por exemplo, os pais atrapalham quando fazem o dever pelo filho, exigem que ele decore os conteúdos para “tomar a lição” e fazem ameaças e cobranças, numa pedagogia do terror para “não ficar em recuperação”. Essa didática não funciona.
Mas os pais ajudam, e muito, quando olham com atenção deveres e provas, se interessam em saber como foram as aulas da semana ou dedicam um tempo do dia para ler ou estudar junto com os filhos. Essas atitudes comunicam aos filhos a importância e o valor de estudar e aprender.
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