Quando
 tratamos da fé, muitas vezes ficamos intimidados de dizer a alguém que 
acreditamos em um Ser Superior. Parece que tal afirmação tem  um sentido
 pejorativo, antiquado e medievalesco. 
Ao
 longo do tempo, com o humanismo, o iluminismo e o existencialismo, o 
homem pretendeu ser e dar respostas a tudo. O conhecimento científico 
tornar-se-ia a redenção do mundo. A partir dele sairíamos das trevas 
para a luz. Não haveria mais perguntas sem respostas. O homem passou a 
ser a medida de todas as coisas. 
Não
 havia mais  necessidade das religiões, muito menos de um Deus, com um 
código de condutas. Liberdade total era a palavra de ordem! A ciência 
curaria as doenças  e homem  teria felicidade plena, principalmente 
porque quebraria as amarras  que o prendiam às entidades transcendentes.
Nesse
 contexto, intelectualidade rimava com racionalismo, ateísmo, 
negativização do transcendente. Imagine alguém versado nas ciências, 
dotado de raciociocínio lógico, acreditar em Deus? Absurdo!diziam os 
letrados. Afinal, para eles, a religião era o ópio do povo. 
Passaram-se
 os anos, séculos e as perguntas continuam sem respostas. Cada vez mais 
assistimos ao desmoronamento moral de nossas instituições. Homens  matam
 com ações primitivas, dantescas e animalescas. Perdeu-se o sentido da 
fraternidade. Expressar amor é romântico, porém ultrapassado. Agora é o 
tempo das máquinas, da frenesi, da velocidade. Não há mais hora para 
“bobagens”: contemplar a natureza?? Só se estiver desempregado ou louco.
 O que expressam as flores? Nada. São apenas junções de partículas 
vegetais, sem raciocínio. Não há mais espaço para futilidades. Lá fora o
 tempo exige de nós uma incessante busca: Dinheiro, Poder, Promoção. E 
as doenças??? Vixe, havíamos esquecido. As doenças continuam existindo. 
Matam aos montes. E agora uma tal de depressão está atingindo crianças 
de todas as idades. E os pais??? Cadê o tempo para cuidar dos filhos??? 
Pára com isso! afinal criamos a babá-eletrônica. Ela toma conta dessa 
tarefa. 
E
 a felicidade? Precisa-se de felicidade? O que é felicidade? Não temos 
tempo para essas divagações. Isso é coisa para filósofo, para 
nefelibato. Somos homens modernos. Não devemos nos permitir invadir-se 
de emoções. Aquele lá  cometeu um suicídio? Foi mesmo. Ah! Isso foi pura
 fraqueza dele! Não havia motivos. Espera aí que minha esposa está ao 
telefone! Só pode ser bronca lá de casa! Meu filho está na delegacia??? 
Como??? Drogas? Ele usa, eu não sabia??? Resolve por aí que eu estou sem
 tempo agora, mais tarde conversamos!
Esse
 o retrato do mundo concebido pelos grandes intelectuais que se deixaram
 arrastar pelo oceano da relativização. Tudo para a ciência! Tudo para o
 mercado! Nada para Deus! Enquanto isso a humanidade marcha desordenada,
 desequilibrada e desorientada. A Civilização está em ruína. Criamos 
leis para se fazer respeitar. Não entendemos, entretanto, que as leis, 
pelo seu caráter de coercibilidade, são um atestado de incompetência do 
Estado diante da sua incapacidade de fazer com que homens e mulheres 
vivam harmônica e respeitosamente em sociedade. 
Mal
 sabemos que uma visão racionalista extremada arranca de nós a 
sensibilidade para conhecer a Deus. Principalmente, sua misericórdia, 
seu amor. Não devemos, todavia, enxergá-lo como um justiceiro 
implacável, um Criador  que adora maltratar suas criaturas. Muito menos 
 concebê-lo como uma muleta para amparar nossas dores, nossas doenças, 
nossos medos. Deus é bem mais e maior porque é absoluto, infinito. Para 
Ele devemos viver pelo ideal de justiça: Não apropriar-se do que a 
alheio. Ganhar a vida com o suor do rosto. Amar ao próximo e cultivar a 
grandeza de ser bom. 
Mais
 importante ainda: Enxergar no outro a extensão de nós mesmos. Se 
magoares o outro, estarás magoando a si mesmo; se praticares o mal a 
alguém, foi para ti mesmo que o praticou. Afinal, somos uma teia 
indivisível. Não há felicidade de um sem a felicidade de todos. 
Pertencemos, queiramos ou não, a uma família única: a humanidade. Essa 
humanidade que é a grande "safra de Deus".
Por
 essa razão não tenho vergonha de dizer que acredito em Deus. Ao 
contrário, minha crença alimenta minha alma, refrigera meu espírito e me
 dá forças para continuar vivendo. Faz-me esperar no homem, mesmo nas 
adversidades. Torna-me menos pretensioso, arrogante, egocêntrico. 
Permite-me apreciar o valor das pequenas coisa escondidas na natureza, 
nos gestos. E principalmente me traz a Paz!!!

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