Da coluna Menu Político, no O POVO deste domingo (27), pelo jornalista Luiz Henrique Campos:
"O governador Cid Gomes tem inegáveis qualidades como gestor e
político. É proativo, não demora a tomar decisões e é pródigo em
encontrar soluções viáveis para problemas complexos. No âmbito político
possui o mérito de juntar em torno de si forças que em outras ocasiões
jamais se aliariam. Foi assim quando prefeito de Sobral, e está sendo
como governador do Ceará. Esse perfil lhe tem permitido vitórias
sucessivas que marcam a sua carreira política e o colocam atualmente
diante da possibilidade de alçar voos nacionais no futuro. Assim, já
esteve ao lado de Tasso Jereissati e da ex-prefeita Luizianne Lins
quando os dois estavam em alta. Hoje, ambos estão em baixa, mas Cid
trata-se de figurinha carimbada no álbum de pessoas próximas a
presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula.
A história mostra, todavia, que a política não pode ser medida apenas
pelo momento. Se Cid conviveu com lideranças que já não mais
representam tanto politicamente, e ele está bem, não significa que isso
se perpetuará. O legado de um político, muitas vezes, não é marcado
somente pelo que realiza em termos administrativos. O futuro,
geralmente, costuma ser até mais cruel com quem comete pequenos deslizes
que, acumulados, desgastam e estigmatizam uma imagem para sempre. Nesse
aspecto, o governador tem o exemplo do irmão Ciro, que se notabilizou
por verbalizar pensamentos que, saídos da boca de um político, são
fatais. Prova dessa assertiva deu-se com a infeliz declaração sobre a
ex-mulher Patrícia Pilar na campanha à presidência de 2002. Para muitos,
ele perdeu a eleição ali.
Em termos comparativos, Cid até que não se assemelha tanto ao irmão
no sentido de utilizar-se de palavras ou expressões grosseiras. Aqui,
acolá, é bem verdade, cede a tentação, como ao falar sobre o procurador
do Ministério de Contas, Gleydison Alexandre. Mas isso é raro. Se não
mancha sua imagem com essas ações, o governador, por outro lado, tem
cometido erros que lhe trazem sérios problemas, criando a pecha de ser
arrogante. Além do caso envolvendo o cachê da cantora Ivete Sangalo,
podemos citar a viagem da sogra, a circulação indevida sobre a pista de
pouso de um aeroporto para se encontrar com a presidente Dilma, entre
outras. Sem falar de atos administrativos que simplesmente são ignorados
pelo governador, como se não merecessem uma satisfação à população,
vide caso dos consignados envolvendo um genro do secretário Arialdo
Pinho.
O que se depreende disso tudo é que o governador não parece saber
dimensionar bem em alguns momentos o papel de gestor público do
indivíduo comum. Dessa forma, vale mais a sua vontade do que
propriamente o zelo com a coisa pública. Situação típica de quem não
ouve ou não tem quem lhe fale sobre a possibilidade de estar cometendo
deslizes. Esse é talvez o grande prejuízo de não se ter uma oposição,
seja no parlamento, ou fora dele, nas instâncias partidárias. O poder,
sem o contraditório, é o mais perigoso dos brinquedos que se dá ao
homem. Sem esse contraponto necessário, as pessoas se acostumam com uma
realidade que nem sempre é a mais fiel aos fatos, esquecendo que a
diferença entre essa realidade e a ficção é o prazo de validade da
gestão em vigor".
Fonte: O Povo
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