Deparo-me muitas vezes em sala de aula
com meus alunos do Direito Penal discutindo sobre a inflação legislativa no
nosso ordenamento pátrio. O senso comum nos leva a crer que se as leis se
tornarem mais duras iremos aplacar o crescimento da violência. Na verdade, há
uma falsa impressão de que se combate
violência com lei dura.
Os exemplos de outros países, muitos
deles que adotam a pena de morte, mostram-nos que essa equação “lei dura –
redução da violência “ não encontra sustentação nos números estatísticos, os
quais ao contrário revelam que em muitos estados americanos, por exemplo, a
adoção da pena capital em nada implicou na redução de mortes por
homicídio.
Uma constatação simples: o deliquente
não consulta o código penal antes de cometer um crime, muito menos se preocupa
com o preceito secundário do tipo. Isso nos permite, por ilação, verificar que
aumentar a carga punitiva ou criar novas leis por si só em nada afasta os
números alarmantes de violência no país.
Esse raciocínio nos permite dizer que o
combate da violência nos exige muito mais do que reprimir condutas. O que se
deve levar em conta é que a violência não nasce por acaso, salvo situações
excepcionais. Na maioria das vezes, para não dizer quase sempre, a prática da
violência está associada à negação de direitos, à desestrutura familiar e ao
processo de injusta exclusão social que é traço preponderante do nosso processo
histórico. Pode parecer simplório tal afirmação, mas não é. A experiência de mais
de 16 anos no judiciário me permitiu observar que adolescentes e jovens afeitos
a práticas delituosas são quase sempre filhos de pais separados, de famílias
destroçadas e, em sua grande maioria, pertencentes à linha de pobreza, sem escolaridade regular.
A eles, na verdade, tudo foi negado e
nada acrescentado. São vítimas de um mecanismo espoliador insidioso, que lhes
privou da infância e do direito de sonhar. A história é quase sempre a mesma:
São trapos humanos que se tornaram escória da sociedade. É inegável que nos é
exigida a lucidez para compreender, salva raríssimas exceções, que ninguém
comete um crime pela simples tendência à prática da maldade, com se lhe fosse
índole peculiar. Não! Por trás de um criminoso há sempre uma história de dor,
abandono, exploração e falta oportunidade.
Não quero aqui a falsa incompreensão de
que pretendo proteger o criminoso ou justificar a sua conduta, apenas, a título
de provocação, lançar luzes para um debate maior que perpassa necessária e inadiavelmente pelo prisma da revisão
histórica, o que impõe uma análise sociológica dos fatos com a criticidade que
o tema exige. É cediço que a formação do nosso país foi marcada pela exploração
estrangeira, deixando-nos uma herança escravocrata e atentatória do direitos mais
elementares da pessoa humana.
Urge a adoção de políticas públicas
efetivas voltadas à educação, não apenas na sua formalidade intrínseca, mas
avançando pela transversalidade, trazendo à lume uma formação integral da pessoa humana, desenvolvendo valores,
aptidões, práticas empreendedoras que permitirão empregabilidade e
sustentabilidade. Isto é: À medida
que tornarmos as pessoas
independentes,garantindo-lhes oportunidades e perspectivas para uma vida
melhor, nenhuma delas será atraída para fosso da criminalidade. Isso sim vale a
pena! Reflitamos!
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