O vice-presidente José Alencar, 77, é um sujeito rico, otimista, bem casado, com família feliz. Desses que enchem o peito para dizer que têm uma saúde de ferro e nunca fazem exames. Até que, um dia, a casa cai.
"O grande problema do câncer é que não tem sintoma, e o diagnóstico precoce é absolutamente fundamental", diz ele, 11 anos e 12 operações depois de tirar os primeiros carcinomas. Três delas coincidiram com campanhas eleitorais.
A casa caiu em 1997, quando Alencar tinha 66 anos. Um sobrinho, médico, tanto insistiu que ele foi fazer um check-up em Belo Horizonte. Resultado: uma pequena "imagem tumoral" no rim direito.
"Eu nunca tive nada, não tinha dor nenhuma, nunca tinha feito um check-up na vida. Descobri por acaso. Foi Deus."
E o susto? "Sou muito prático. Recebi a notícia com naturalidade e perguntei: "Então, o que vamos fazer?'".
Dois dias depois, estava em São Paulo, para refazer os exames e se preparar para a cirurgia com o urologista Miguel Srougi, do Hospital Sírio-Libanês. Na ressonância magnética abdominal, feita por uma médica, Alencar lhe perguntou se abrangia tudo, inclusive o estômago. Não, a ressonância não alcançava as "vísceras ocas". Para estômago, tinha de ser uma endoscopia.
"Eu jamais teria ido ao médico para me queixar de rim e lá estava um tumor. E o estômago? Às vezes, eu tinha uma azia à noite, reclamava, e a Mariza [sua mulher] dizia: "Você bebe, come muito..."." Enfermeira pela Escola Ana Néri, no Rio de Janeiro, ela tirou primeiro lugar e foi oradora de turma, mas não exerce a profissão.
Na reunião com Srougi para definir a cirurgia, presentes o filho, Josué, um irmão e um cunhado, Alencar exigiu fazer uma endoscopia antes. Ninguém entendeu. "O médico me deu uma bronca, e os três riram." Mas ele bateu pé firme.
Santa teimosia. Além do tumor no rim, havia outro no estômago. No mesmo corte, Srougi tirou o primeiro, e o gastroenterologista Raul Cutait, o segundo. Alencar deixou o hospital sem os dois carcinomas, sem um rim e sem três quartos do estômago, mas sem precisar de quimio nem radioterapia. "Saí curado."
Foi intuição? "Sempre recomendo às pessoas para seguirem sua intuição, mas não foi isso, não. Foi porque sou mineiro, mineiro da Zona da Mata e de uma região montanhosa. Atrás de morro tem morro, tem de ir lá conferir."
Seis meses depois, com "uns 20 quilos a menos", lá estava ele sacolejando em carrocerias de caminhões e voando de lá para cá de avião, em plena campanha para o Senado pelo PMDB de Minas. Uma eleição difícil, mas Alencar venceu.
Fonte: Folha on line
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