Depois de 45 anos de profissão me aposentei por idade. Isso não quer dizer que tenha parado de trabalhar. Não dou mais aulas por semestres a fio, não frequento reuniões e não tenho obrigações burocráticas. Fico feliz de ter mais tempo para escrever e organizar livros, participar de seminários e fazer conferências. Tudo com a calma que jamais tive ao longo da minha vida acadêmica.
Passados seis meses do dia em que saiu no Diário Oficial a minha aposentadoria, achei que a paciência de meus colegas tinha limites e decidi retirar meus pertences da sala que ocupava ultimamente no quarto andar do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Durante minha carreira optei por trabalhar na faculdade.
Meus colegas e eu “colonizamos”, como me disse um dia o grande arquiteto Glauco Campelo, ex-presidente do Iphan, aos poucos e com muito esforço, o prédio da antiga Faculdade de Engenharia no Largo de São Francisco, no Centro Histórico do Rio de Janeiro. Foi difícil nos primeiros tempos. Eram laboratórios de engenharia, metrologia e física que aos poucos tivemos de transformar em laboratórios de ciências sociais, filosofia e história. Ou seja, espaços aptos a acolher pesquisadores de outras áreas e suas equipes, livros e material de estudo.
Os livros foram transportados de Botafogo para o centro da cidade em caminhões da polícia, sem a menor preocupação e cuidado com o acervo da excelente biblioteca do antigo Instituto de Ciências Sociais, ao qual se juntaram os exemplares da área de ciências sociais, filosofia e história da Faculdade Nacional de Filosofia. O conjunto era atualizadíssimo para a época e contava com coleções históricas. Foram necessários anos para reorganizá-lo e alocá-lo até conseguirmos construir o espaço atual da Biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos. O esforço de todos nós no IFCS foi fazendo da nossa casa, uma das mais importantes e belas unidades da UFRJ.
Entrar no Instituto aos sábados com Eloisa Helena, minha amiga, e diretora da Biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos na época em que transferimos o acervo mal-acomodado no segundo andar para as novas instalações, e uma ajudante, para reorganizar os livros e os papéis de caixas e mais caixas está sendo um exercício de desapego. O que devo preservar? O que jogar fora? E cada bilhete? E os cadernos de campo das muitas pesquisas que fiz ao longo dos anos?
Não consigo me desapegar de tudo isso. Nem sei se devo, se tenho o direito. Tanto esforço e recursos investidos na minha carreira. Recursos governamentais e de agências estrangeiras que confiaram na minha capacidade de produzir para o avanço da ciência e de formar novos pesquisadores.
Ao remexer em cada caixa cuidadosamente classificada por um ex-aluno e amigo querido, Christiano Matsinhe, percebo a dificuldade de reorganizar tudo com os olhos de hoje. Encontrei preciosidades. Cadernos de aula de 1969 quando fiz o curso de mestrado. Diários de campo de turmas inteiras que se dedicaram à investigação de temas que foram objeto de minhas reflexões. Muitos documentos referentes às minhas inúmeras atividades administrativas e de construção de uma instituição que me renderam tantas alegrias e alguns dissabores. E os materiais coletados em arquivos públicos, jornais e revistas? E as fotos? E os artigos datilografados, no tempo em que não se sonhava com o computador e ainda não publicados?
Sempre soube que a vida era curta, mas chegar nesse momento de ter de me separar dos pequenos fragmentos da minha história está me deixando meio desatinada e até triste porque com saudades de um tempo que passou. Não consigo me desfazer de muita coisa. Vou levar para casa muitas caixas com os documentos catalogados. Os livros doarei à biblioteca. Eles estarão no acervo identificados como coleção Yvonne Maggie. Com eles vai a estátua do caboclo de tamanho quase realista que me acompanha desde os anos 1970. Ele vai como símbolo da pesquisadora e professora que se dedicou em tempo integral a seus alunos e à pesquisa.
Passados seis meses do dia em que saiu no Diário Oficial a minha aposentadoria, achei que a paciência de meus colegas tinha limites e decidi retirar meus pertences da sala que ocupava ultimamente no quarto andar do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Durante minha carreira optei por trabalhar na faculdade.
Meus colegas e eu “colonizamos”, como me disse um dia o grande arquiteto Glauco Campelo, ex-presidente do Iphan, aos poucos e com muito esforço, o prédio da antiga Faculdade de Engenharia no Largo de São Francisco, no Centro Histórico do Rio de Janeiro. Foi difícil nos primeiros tempos. Eram laboratórios de engenharia, metrologia e física que aos poucos tivemos de transformar em laboratórios de ciências sociais, filosofia e história. Ou seja, espaços aptos a acolher pesquisadores de outras áreas e suas equipes, livros e material de estudo.
Os livros foram transportados de Botafogo para o centro da cidade em caminhões da polícia, sem a menor preocupação e cuidado com o acervo da excelente biblioteca do antigo Instituto de Ciências Sociais, ao qual se juntaram os exemplares da área de ciências sociais, filosofia e história da Faculdade Nacional de Filosofia. O conjunto era atualizadíssimo para a época e contava com coleções históricas. Foram necessários anos para reorganizá-lo e alocá-lo até conseguirmos construir o espaço atual da Biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos. O esforço de todos nós no IFCS foi fazendo da nossa casa, uma das mais importantes e belas unidades da UFRJ.
Entrar no Instituto aos sábados com Eloisa Helena, minha amiga, e diretora da Biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos na época em que transferimos o acervo mal-acomodado no segundo andar para as novas instalações, e uma ajudante, para reorganizar os livros e os papéis de caixas e mais caixas está sendo um exercício de desapego. O que devo preservar? O que jogar fora? E cada bilhete? E os cadernos de campo das muitas pesquisas que fiz ao longo dos anos?
Não consigo me desapegar de tudo isso. Nem sei se devo, se tenho o direito. Tanto esforço e recursos investidos na minha carreira. Recursos governamentais e de agências estrangeiras que confiaram na minha capacidade de produzir para o avanço da ciência e de formar novos pesquisadores.
Ao remexer em cada caixa cuidadosamente classificada por um ex-aluno e amigo querido, Christiano Matsinhe, percebo a dificuldade de reorganizar tudo com os olhos de hoje. Encontrei preciosidades. Cadernos de aula de 1969 quando fiz o curso de mestrado. Diários de campo de turmas inteiras que se dedicaram à investigação de temas que foram objeto de minhas reflexões. Muitos documentos referentes às minhas inúmeras atividades administrativas e de construção de uma instituição que me renderam tantas alegrias e alguns dissabores. E os materiais coletados em arquivos públicos, jornais e revistas? E as fotos? E os artigos datilografados, no tempo em que não se sonhava com o computador e ainda não publicados?
Sempre soube que a vida era curta, mas chegar nesse momento de ter de me separar dos pequenos fragmentos da minha história está me deixando meio desatinada e até triste porque com saudades de um tempo que passou. Não consigo me desfazer de muita coisa. Vou levar para casa muitas caixas com os documentos catalogados. Os livros doarei à biblioteca. Eles estarão no acervo identificados como coleção Yvonne Maggie. Com eles vai a estátua do caboclo de tamanho quase realista que me acompanha desde os anos 1970. Ele vai como símbolo da pesquisadora e professora que se dedicou em tempo integral a seus alunos e à pesquisa.
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