O desafio é sempre este: a que damos mais primazia? À sombra ou à luz? Desejável e saudável é dar maior espaço à luz. Mas há também momentos em que os fatos perversos, tornados públicos, provocam a iracúndia sagrada, o protesto explícito e a manifestação pública. A sombra tem também o seu direito, pois não é um defeito mas uma marca de nossa condição humana: iracundos e pacíficos, duros e flexíveis.
O desfio é buscar a justa medida que representa o ótimo relativo, o equilíbrio entre o mais e o menos; ou a auto-limitação que significa o sacrifício necessário para que nossa ação não seja destrutiva das relações mas boa para todos. Uma sociedade que se civilizou procura sempre este equilíbrio. Neste grupo estão as maiorias que vivem de seu trabalho, empreendedores corretos que levam o país para frente. São sensíveis aos pobres e dificilmente discriminam por causa da origem, da cor ou da religião.
Atualmente constata-se um leque grande de expressões políticas, digamos de direita, de centro, de esquerda, cada qual com suas nuances. Há os que são conservadores em política, dão primazia ao princípio da ordem, mesmo admitindo que haja excessos sociais. Economicamente são até progressistas, abertos às novidades tecnológicas.
Há os que olham o cenário mundial, onde as grandes potências a ditam os rumos da história e pensam: não somos suficientemente desenvolvidos e fortes para termos um projeto próprio. É mais vantajoso caminhar com eles, mesmo como sócios menores e agregados. Assim não ficamos marginalizados. Estes temem projetos alternativos.
Há os que não esperam nada de cima, pois a história tem mostrado que todos os projetos elaborados pelos do andar de cima sempre deixaram as grandes maiorias do andar de baixo, lá onde estavam ou simplesmente de fora. Confiam nas organizações dos movimento sociais, articulados de tal forma que conseguem elaborar um projeto de Brasil debaixo para cima e de dentro para fora. Visam uma democracia participativa e políticas públicas que beneficiem os milhões de historicamente deixados para trás. Esses no Brasil, como em outros países da América Latina, com seus partidos, ocuparam o poder de Estado. Melhoraram a situação dos mais penalizados e todos de alguma forma ganharam. Esses lutam para se garantir no poder e levar avante o projeto popular.
Mas não basta esta vontade generosa. Ela precisa vir revestida de ética, de transparência e de figuras de políticos exemplares que dão corpo ao que pregam. Infelizmente isso não ocorreu ou deforma fragmenta e insuficiente. Não poucos sucumbiram ao arquétipo mais poderoso em nós, segundo C. G. Jung, o poder, porque nos dá a ilusão de onipotência divina, de poder decidir o destino das pessoas além de inúmeras vantagens pessoais.
Max Weber, o mestre do estudo do poder, sentenciou: só exerce bem o poder quem toma distância dele e considera-o passageiro e serviço desinteressado à comunidade.
* colunista do JB
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