Entre julho e agosto a indústria cresceu 1,4%! Será a tão esperada recuperação da economia chegando? Infelizmente, não. Nos oito primeiros meses do ano, o setor carrega um resultado negativo - 3,1%. No chão das fábricas, a produção de máquinas e equipamentos acumula queda de 8,8% no ano. A indústria de bens de consumo duráveis (carro, TV, máquina de lavar), caiu 10,3%.
Números são chatos, mas eles mostram a realidade, não uma interpretação dela. Quando cai a produção de máquinas e equipamentos, significa que o investimento está caindo. Se o investimento está caindo, é porque a insegurança com o futuro está falando mais alto. Sem investimento, sem confiança, como poderá chegar a recuperação?
Em entrevista ao repórter Alexandre Martello, do G1, o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que a política econômica adotada pelo governo de Dilma Rousseff deu certo, enfatizando o cuidado “prioritário” com a inflação, o acerto do aumento dos gastos públicos para estimular o crescimento, o baixo desemprego. “A economia já está se recuperando”, disse Mantega.
A “realidade” descrita pelo ministro não pode ser encontrada nos números. A inflação vai fechar 2014 acima de 6%, tendo passado os últimos três anos acima ou muito perto disso. Vale ressaltar que a inflação deste ano seria maior ainda se o governo não tivesse represado reajustes de luz, gasolina, bebidas frias, transportes, câmbio. O trabalhador assalariado é o melhor porta-voz desta realidade: o poder de compra do bolso.
Aumentar gastos públicos para incentivar o crescimento em tempos de crise internacional está na receita de muitas histórias de sucesso. Mas o sucesso só chega se a medida for equilibrada. As contas públicas do Brasil apresentam hoje o pior resultado desde 1997, com armadilhas perigosas a serem desmontadas com cuidado para não causar danos na estrutura fiscal do país. O PIB de 2014 deverá ser quase nulo, fechando quatro anos de governo com o pior desempenho dos últimos 24 anos!
O ministro tem razão quando fala do sucesso da política de emprego. Temos hoje a menor taxa de desemprego da história. A contrapartida desta conquista foi a queda na produtividade, ou seja, estamos empregando mais, produzindo menos, com custo maior e tudo isso sendo compensado pelos preços: inflação.
Quem dera poder escrever que, depois de tantos remendos na economia, o Brasil está se recuperando para deixar para trás esses 24 anos que nos separam do último pior crescimento da história. Quem dera poder escrever que o Brasil arrumou a casa e pode agora dar prioridade ao que é prioridade: investir em educação e saúde, para começar.
Ouvi de um professor que a economia é como um móbile. Quando você mexe em um pendente, os outros sentem e refletem a intensidade da intervenção. O vento que balança o “móbile” da economia brasileira está mais para um tornado - provocado de dentro para fora, embolando todos os elos que o compõem.
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