Entrei no táxi e imediatamente o motorista começou a puxar um longo papo sobre política. Fui dando corda. De repente ele falou: “Eu não acredito nessas pesquisas. Nunca fui perguntado sobre nada. Vivo nessa cidade há 53 anos e eles nunca me acharam? Não, tem truta aí!”. Tentei argumentar, mas não adiantou. Ele estava firme na sua posição. E eu que pensava que os brasileiros aceitavam estatísticas como se acredita em uma verdade divina, revelada! Depois dessa conversa fiquei pensando que talvez não seja assim.
Pois bem, no último sábado abri a página do G1para saber das notícias – e, confesso, para ler os comentários ao meu post no blog A Vida como Ela Parece Ser – e me deparei com uma matéria muito interessante. Nada de estatística. Não há gráficos e muito menos tabelas. Apenas um levantamentocom algumas pessoas que se dizem indecisas quanto à escolha do candidato à presidência da república. Para confirmar a veracidade das respostas dos eleitores indecisos, cada entrevistado foi fotografado.
Os repórteres selecionaram os temas – educação, saúde, transporte e segurança vêm em primeiro lugar nas preocupações desses eleitores. Isso em si mesmo já é um dado relevante. Nem sempre os problemas foram tão claros e bem definidos como estão sendo hoje em dia. E as manifestações de junho de 2013 mostraram isso.
O que mais me chamou a atenção na pesquisa, estilo antropológica, na qual o entrevistado aparece com nome, profissão, local de moradia e rosto, foi o fato de muitos dizerem aquilo que nós sabemos ser verdade. Os candidatos prometem, mas não cumprem.
Vejam a afirmação de uma auxiliar de cozinha de 24 anos:
"Eu estou descrente da política. O que a gente vê são promessas, promessas, promessas e nada sendo cumprido. É difícil escolher um candidato porque a gente não acredita que algum vá colocar em prática o que promete."
Impressiona também o fato de muitos, ao contrário da auxiliar de cozinha, não terem perdido totalmente a esperança de encontrar algum candidato que tenha propostas coerentes, como se pode ver pela resposta de uma dona de casa de 69 anos:
"Nenhum candidato apresentou boas propostas para a educação e saúde que me convencesse. Se não aparecer eu só vou justificar."
Finalmente, o mais alarmante mesmo é o fato de muitas pessoas dizerem o que uma amiga afirmou no Facebook:
"São Gonçalo, como sempre, só é lembrada na época das eleições dada a quantidade de eleitores que há na minha cidade. No entanto, fora do período eleitoral ninguém intervém ou faz algo. Há coisas que nunca mudam. De quatro em quatro anos parece que apertam o 'repeat'. Triste!"
Muitos falaram da mesmice, da repetição de promessas e da falta de propostas concretas.
Vitor Nunes Leal, um dos mais importantes cientistas políticos do século XX no Brasil, autor do clássico "Coronelismo, exata e voto", certamente gostaria de ter visto essa enquete. O voto de cabresto e o coronelismo, tão esmiuçados no seu belíssimo livro, esvoaçaram-se na poeira do tempo? Os eleitores entrevistados, velhos ou novos, homens ou mulheres, pobres ou remediados não aceitam mais promessas e aprenderam que política se faz com o voto consciente, livre e independente e por isso estão indecisos?
Vale a pena ler a matéria. O motorista de táxi descrente poderá se identificar com algum dos pesquisados, pois mostraram, ao se deixarem fotografar, que realmente foram ouvidos. Não são apenas números, são pessoas de carne e osso.
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