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O dia em que tentei falar de flores, POR YVONNE MAGE



CannabisSempre pesquisei temas “pesados”: guerras de orixás, feitiçarias, racismo. Passei alguns anos compartilhando o dia a dia de escolas públicas de ensino médio em periferias e bairros pobres. No meio dessa longa carreira em que me dediquei à pesquisa com alma, coração e muito esforço físico, emaranhada em debates públicos acirrados e cheios de outras feitiçarias e guerras, pensava sempre em estudar flores.


Muitas vezes me perguntei, mas por que não há flores nos meus escritos? Por que não me dediquei ao estudo das lindas flores do cerrado que insistem em brotar no planalto central? Pois bem, nunca falei de flores. Porém hoje, com toda a revolução da tecnologia, acordo todas as manhãs com as flores que o meu amigo Bolívar Lamounier vai colecionando e “postando” no seu mural do Facebook para a felicidade dos seus muitos amigos e amigas. Fico muito alegre ao abrir o computador para a labuta diária e encontrar uma rosa orvalhada captada pelas lentes sensíveis do cientista político mais romântico que conheço. Então digo a mim mesma: Um dia ainda hei de falar de flores, flores do cerrado!

Pois hoje é o dia de esquecer que vivemos em um país injusto, desigual, rico, porém pobre. De não lembrar que as prisões estão cheias de gente comum, pessoas esquálidas em sua maioria, um terço das quais poderia ser solta porque confinadas injustamente. Masmorras que deveriam ser destruídas e outras mais salubres erguidas em seu lugar, em vez de se construir estádios imperiais. Um país onde a violência doméstica é altíssima e as mulheres, as muitas mães pobres, recorrerem à ajuda de traficantes porque a justiça não zela por elas. Dia de não falar sobre os altos índices de assassinatos e mortes violentas. Dia de não se referir aos descaminhos de nossa economia, apesar do empreendedorismo do povo ser tão visível pelas ruas, nos morros pacificados e nos bairros mais elitizados arranjando jeitos de ganhar o pão de cada dia.

Como falar de flores se o dia está cinza e o coração angustiado vendo nossos futuros representantes novamente visitando bairros distantes e prometendo rios de leite e montanhas de cuscuz? Todos sabemos que as promessas demoram a chegar e que precisamos de debate sobre temas fundamentais. Debate e não acusações e xingamentos. Precisamos saber o que será feito em muitos campos tais como educação, saúde e  transporte público. Fica sempre o dito por não dito e tenho certeza de que a maioria dos candidatos nem sabe como enfrentar as questões mais centrais de nossa vida republicana.

Falar de flores sempre foi o meu sonho. Confesso que gostaria de tecer comentários lindos sobre as orquídeas ou hortênsias que brotavam cheias de cores no jardim da minha casa em Teresópolis. Mas, falar de flores é mencionar coisas boas e por isso, hoje, vou comentar uma notícia alvissareira não propriamente sobre  flor, mas sobre uma planta: a maconha. 

Acordei no sábado dia 26 de julho, com uma notícia mais do que feliz. O jornal The New York Times em seu editorial lançou a campanha pela liberalização do consumo para fins recreativos da maconha nos EUA. Uma campanha para abrir o debate. Os editores comparam a criminalização da erva à do álcool que ao longo de doze anos produziu máfias mortíferas, enquanto a bebida continuava a ser consumida às escondidas.


Diz o editorial do NYT que a criminalização da maconha e outras drogas em 1970, por meio do “Controlled Substance Act” aprovado pelo Congresso Norte-Americano e pelo presidente Richard Nixon, levou muito mais pessoas às prisões do que a cocaína e a heroína nos EUA, e sabemos que isso também ocorre no Brasil. Além disso, continua o editorial, a lei de proibição do uso da maconha é racista porque leva milhares de negros à prisão. Digamos que aqui no Brasil o fato se repete porque são os jovens pobres os mais penalizados.
Mencionar essa planta que tem fins medicinais e também recreativos é falar de flores e proponho que os candidatos que concorrem este ano discutam a descriminalização da maconha e trabalhem pela legalização de seu uso em todo o território nacional se forem eleitos. 

Bela como uma flor vai aqui, acima, a foto da planta verde que cresce em vaso em uma varanda qualquer.
*Foto: G1

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